Respirar

Respirar, ó poema invisível!

Troca incessante e pura

entre o próprio ser e o espaço do mundo.

Contrapeso em que ritmicamente me aconteço.

:

Onda única

de que sou o mar gradual;

tu, o mais poupado de todos os mares possíveis,

ganho de espaço.

:

Quantos destes sítios espaciais estiveram já

dentro de mim. Ventos vários

são como filho meu.

:

Reconheces-me tu, ar, tu inda cheio de lugares

que foram meus outrora?

Tu, um dia casca lisa,

rotundidade e folha de palavras minhas.

:

Rainer Maria Rilke

(tradução de Paulo Quintela)