Mente Mais Leve com Tricô

Nos EUA, tricô ajuda os
adolescentes ansiosos. E no
Brasil, a meditação é estudada
contra hipertensão e depressão

Lena Castellón

Um ponto aqui, outro ali. Olhos grudados nos movimentos das mãos, mas ouvidos atentos ao que dizem em torno. O professor fala e os estudantes tricotam. Parece estranho, mas é assim que alguns alunos do Manhattan Center for Science and Mathematics, dos Estados Unidos, têm assistido aulas. A direção acredita que permitir a prática na sala não é prejudicial. Pelo contrário, ajudaria a aprimorar a concentração. Em declaração dada recentemente ao jornal inglês The Times, uma assistente do diretor não apenas garantiu isso como acrescentou que os jovens também trabalham com papel e caneta. O curioso é que essa não é a única instituição americana a liberar o hobby em suas dependências. A atividade, tão comum às nossas avós, virou mania nos EUA e no Reino Unido. A moda floresceu há cerca de dois anos, gerou clubes de tricô nas escolas e invadiu a internet, com sites e blogs sobre o tema.

A mania cresceu tão rapidamente que foi lançado um livro para quem deseja aderir ao artesanato manual. Teen Knitting Club – das experientes tricoteiras americanas Jennifer Wenger, Carol Abrams e Maureen Lasher – traz dicas para que garotas e garotos (sim, eles também tricotam) produzam suas peças. “Tenho cinco mil clientes. Deles, 15% são adolescentes. E o interesse cresce”, conta Jennifer, que ensina a tricotar. Nas entrevistas feitas pelas autoras para entender as razões que levaram a moçada a incorporar o hábito, os jovens disseram que o tricô diminui a ansiedade e o stress. De fato, artesanato e trabalhos artísticos funcionam como métodos relaxantes. Além disso, o tricô exige atenção para que tudo saia direito. Ansiosos exercitariam a paciência e treinariam a capacidade de se focar em um objeto. Estressados encontrariam uma válvula de escape para a tensão. A beleza das peças ajudaria o tricoteiro a descobrir que pode produzir algo bonito, melhorando a auto-estima.

Complemento – No Brasil, o tricô também pode ser uma alternativa contra esses distúrbios. A jornalista Paula Camila, 21 anos, de Juiz de Fora (MG), recebeu de amigos a sugestão de fazer um trabalho manual para lidar com a ansiedade. Ela escolheu o tricô. “Melhorei bastante. Levo meu kit quando estou longe de casa”, revela. Em maio, numa viagem com o noivo, o programador de web Gabriel Barbosa, 23 anos, carregou consigo agulhas e novelos. “O tricô é tão terapêutico que ensinei meu noivo a fazer. Ele adorou. Diz que o tempo passa rápido”, comenta.

Na verdade, trabalhos manuais e artísticos como a pintura têm funcionado cada vez mais como complementos aos tratamentos da ansiedade e da depressão. São estratégias não medicamentosas que acalmam a mente. Pelo mesmo motivo, a meditação ganha espaço. “Ela controla o tráfego de pensamentos. É um momento de conscientização do que a pessoa é. Se é alguém calmo e está com raiva, cria meios de lembrar seu estado natural”, afirma Luciana Ferraz, da organização Brahma Kumaris no Brasil (entidade que oferece cursos de meditação e qualidade de vida em 86 países).

Os efeitos da meditação no controle de patologias da mente são alvo de estudo em várias partes do mundo. No Brasil, um desses centros é a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A psicóloga Márcia Marchiori, por exemplo, desenvolve tese para analisar o impacto da meditação em idosos com pressão arterial elevada. Avaliará também os níveis de depressão e ansiedade em 80 voluntários que serão acompanhados por três meses. Metade deles meditará duas vezes por dia durante 20 minutos. O trabalho começa em setembro. “Queremos ver se a meditação terá efeitos significativos para essas pessoas”, afirma Márcia. Por enquanto, as evidências mostram que há benefícios palpáveis. “Na depressão, a meditação ajuda o indivíduo a identificar pensamentos e emoções que o levam a um estado indesejável”, explica Elisa Kozasa, pesquisadora da Unifesp.

É claro que meditar – assim como fazer tricô – não é panacéia. “Se o praticante faz um tratamento, orientamos que prossiga com ele”, conta Luciana, do Brahma Kumaris. Quando se propõe o uso de tais estratégias, é importante entender que esses métodos são complementares à terapia indicada pelo médico. E também é preciso saber que esses expedientes precisam ser praticados com freqüência para que promovam os benefícios esperados. É como exercício físico. Uma vez só não adianta.

Publicado em IstoÉ 27/07/2005

3 pensou em “Mente Mais Leve com Tricô

  1. valeria oliveira

    maravilhosa esta tecnica e experiencia devcs parabens eu estou com depressão sindrome do panico,cardiopatia hipertensiva e queria um lugar onde eu pudesse faser ma terapia assim mais aqui onde eu moro não tem.

    Responder
  2. janet mcbeath

    I am 81 and have knitted since I was 9. I find it a most enjoyable occupation, which makes you think as you work, especially if you work from patterns, as I do. It would be nice to meet other women with an interest in knitting.

    Responder

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *