Arquivo da categoria: autodesenvolvimento

Sabedoria Gaúcha

Esta música de Vitor Ramil é antiga e eu a ouvia muito num LP que ainda devo ter em algum lugar. Ela parece falar direto ao meu coração e à minha mente, sempre tão inquietos, sempre tão necessitados de paz e de se deixar levar. Hoje estava caminhando e ouvindo essa música, que repeti infinitamente no celular, e fiquei pensando o que mais aprendi com os gaúchos. Lembrei-me de três situações em que alguns gaúchos me influenciaram muito.

Uma foi um contato que fiz com a escritora Martha Medeiros. Minha filha Bia, de 17 anos, escreveu um texto no seu blog, quando tinha 14 anos, fazendo um resumo sobre sua vida. Lá, ela dizia que Martha Medeiros era sua inspiração. Eu entrei em contato com a Martha pelo e-mail que havia no jornal O Globo e, surpresa!, ela respondeu, de forma super gentil e carinhosa. Ainda mais, leu o blog e nos convidou para ir ao lançamento de um livro seu na livraria Travessa, em Ipanema. Eu levei Bia, mas não disse para quê. Foi uma emoção enorme quando Bia foi recebida pela sua ídola de forma tão carinhosa. Reaprendi com ela (Martha Medeiros) que, por mais sucesso e bajulação que a vida lhe ofereça, nunca preciso deixar de ser eu mesmo e ter carinho pelas pessoas.

Outra gaúcha que me ensinou muito foi a Fabiana Macchi, que participou de um seminário biográfico que organizei em São Paulo, nos tempos de DAO Terapias, com Rosângela Cunha. Eu tenho um coração cigano e gosto de mudar de lugar. Pois bem, a Fabiana me deu uma aula de coragem ao contar como foi morar na Suíça e dar aulas de alemão para quem é nativo na língua, quando ela mal sabia a língua, tendo que mergulhar nos livros para dominá-la e conquistar o seu sonho, tendo sido professora numa importante universidade lá, procurada por pessoas de todo o mundo que desejam aprofundar seus estudos na língua alemã.

O outro gaúcho é o pastor Adelcio Kronbauer, da Igreja Luterana em Nova Friburgo, que sabe falar como ninguém sobre a essência das coisas, desmistificando a religião. Isso, além de ser um amigo com quem se pode contar em momentos difíceis.

Como se vê, do Sul vem muito mais do que as frentes frias… Obrigado, gaúchas e gaúchos!!!

A Individuação segundo Goethe

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“Quem sou eu? O que eu fiz? Eu recolhi tudo aquilo que observei e aprendi. Minhas obras foram alimentadas por uma multidão de indivíduos diversos, de ignorantes e sábios, de sagazes e tolos. Infância, idade madura e velhice – todas vieram me oferecer seus pensamentos, seus poderes, sua maneira de ser. Muitas vezes recolhi aquilo que outros semearam. Minha obra é a de um ser coletivo e leva o nome de Goethe.”

(17 de Fevereiro de 1832)

“Conversações com Goethe” by Johann Peter Eckermann.

Por que conhecer e integrar a sua sombra à sua personalidade?

  • chegar a uma auto-aceitação mais genuína, baseada num conhecimento mais completo de quem realmente somos;
  • desativar as emoções negativas que irrompem inesperadamente na nossa vida cotidiana;
  • nos sentirmos mais livres da culpa e da vergonha associadas aos nossos sentimentos e atos negativos;
  • reconhecer as projeções que matizam as opiniões que formamos sobre os outros;
  • curar nossos relacionamentos através de um auto-exame mais honesto e de uma comunicação direta;
  • e usar a nossa imaginação criativa (através de sonhos, desenhos, escrita e rituais) para aceitar o nosso eu reprimido.

Conheça o workshop Teatro de Sombras

Dança da paz

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Germinam desejos da alma
Crescem ações do querer
Amadurecem frutos da vida.

Eu sinto meu destino,
Meu destino me encontra.
Eu sinto minha estrela,
Minha estrela me encontra.
Eu sinto minhas metas,
Minhas metas me encontram.

Minha alma e o mundo são somente um.

A vida, fica mais clara ao meu redor,
A vida, fica mais difícil para mim,
A vida, fica mais rica em mim.

Aspire a paz,
Viva em paz,
Ame a paz.

Rudolf Steiner

Tolerância e Fundamentalismo

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Fundamentalismo é o termo usado para se referir à crença na interpretação literal dos livros sagrados. Fundamentalistas são encontrados entre religiosos diversos e pregam que os dogmas de seus livros sagrados sejam seguidos à risca.

O termo surgiu no começo do século 20 nos EUA, quando protestantes determinaram que a fé cristã exigia acreditar em tudo que está escrito na Bíblia. Mas o fundamentalismo só começou a preocupar o mundo em 1979, quando a Revolução Islâmica transformou o Irã num Estado teocrático e obrigou o país a um retrocesso aos olhos do Ocidente: mulheres foram obrigadas a cobrir o rosto e festas, proibidas. “Para quem aprecia as conquistas da modernidade, não é fácil entender a angústia que elas causam nos fundamentalistas religiosos”, escreveu Karen Armstrong no livro Em Nome de Deus: o Fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo.

Porém, não são apenas os muçulmanos que têm seus fundamentalistas, também os cristãos, os judeus e, por incrível que possa parecer, os ateus e os céticos. A atitude fundamentalista não permite diálogo, porque suas verdades são únicas e incontestáveis, e quem diverge delas é desqualificado, quando não ridicularizados ou atacados pessoalmente.

Em muitas situações podemos atuar de forma fundamentalista, excluindo a possibilidade de compreender e dialogar com o outro. Pessoas que participam de grupos de defesa dos direitos dos animais veem com imenso desprezo quem não gosta de animais. Vegetarianos podem arrepiar-se ao passar na porta de uma churrascaria. É óbvio que nem todos são fundamentalistas, graças a Deus, ou graças a Richard Dawkins.

Temos em torno de nós muitas pessoas que agem de maneira fundamentalista, quando não somos nós mesmos os fundamentalistas. Na medicina, por exemplo, ainda um grande número dos médicos alopatas desqualifica os médicos homeopatas, sem sequer querer conhecer a especialidade (sim, é uma especialidade médica reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina desde 1981), assim como muitos médico homeopatas ficam indignados se algum paciente usa algum remédio alopático, mesmo que seja numa situação em que tenha sido prescrito num atendimento de urgência. E os pais que acham que os filhos têm que viver a adolescência como se fossem adultos perfeitos? E os adolescentes que acham que os pais são extraterrestres por não conhecer aquela banda que faz sucesso “já” há 3 dias e que vai desaparecer antes de você terminar este texto, também não são fundamentalistas?

Muitas vezes nos relacionamentos a dois o comportamento fundamentalista leva a brigas, desentendimentos e até separações, pois muitas vezes um dos cônjuges quer que o(a) parceiro(a) seja exatamente como suas fantasias acham que deva ser um(a) parceiro(a) ideal.

E qual é o antídoto para o fundamentalismo? A TOLERÂNCIA. Saber que, por mais que queiramos, as pessoas são diferentes, pensam de forma diferente, mesmo quando são da mesma família. Ser diferente não deveria ser um empecilho para uma boa convivência entre as pessoas.

Tolerância e diálogo devem ser nossos lemas na relação com outros seres humanos. Esta é a base da verdadeira paz!

Alice e a Crise de Identidade

Artigo originalmente publicado na Revista Personare.

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Marcelo Guerra

O filme Alice no País das Maravilhas, na versão de Tim Burton, além de sua excepcional beleza que, graças ao efeito 3D, nos toca quase que literalmente, nos proporciona uma importante reflexão sobre a Crise de Identidade. Arquetipicamente esbarramos com ela na passagem da adolescência para a vida adulta.

Enquanto em algumas sociedades tribais os jovens precisam passar por lutas ou serem largados numa floresta, em nossas sociedades ocidentais encontramos metáforas dessas lutas e aventuras dentro de florestas desconhecidas. O final de faculdade e a procura por um emprego geralmente se assemelham bastante à sensação de estar perdido no meio de uma floresta. Precisamos demonstrar habilidades que ainda não estamos bem certos de possuirmos. Alice se vê diante de uma escolha ‘profissional’ (afinal ser esposa era praticamente uma profissão para as mulheres daquela época), ao ser proposta em casamento por um jovem rico e sem graça. Este é o momento em que ela percebe que sua vida adulta está batendo à sua porta, e sua Crise de Identidade começa.

Alice cai num buraco muito fundo, suas certezas da adolescência ficam todas em suspenso, uma sensação de estar no vácuo. Afinal, a adolescência é uma época de dúvidas, mas costumamos mascará-las com ideologias que buscamos desesperadamente. Agora, as ideologias precisam passar por um choque com a realidade. Ser adulto implica em buscar a sua própria verdade e não emprestarmos uma de alguma ideologia, por mais sublime que seja. E a sua verdade pode não ser tão sublime assim, afinal nossa personalidade está povoada por elementos de luz e de sombra.

Alice se vê diante dessa crise e nem sabe se é ‘a Alice’! Põe-se numa jornada de exploração, típica do início da vida adulta, em que viajamos muito, conhecemos muitas pessoas diferentes (saindo daquele esquema do ‘meu grupo’ tão comum na adolescência), trabalhamos em vários lugares diferentes, ou seja, buscamos conhecer o mundo como ele é. Recebemos ajuda de pessoas mais velhas e experientes, como o Chapeleiro Louco fez com Alice.

Ao fim da exploração, Alice se vê diante do Jaguadarte (uma espécie de dragão) e, principalmente, diante do último fio de convicção ideológica que guarda de sua adolescência: ‘Eu não sou capaz de matar’. Cada vez é mais comum nos agarrarmos aos traços de nossa adolescência, até mesmo pelo excessivo valor que é depositado à imagem da adolescência pelos meios de comunicação. Um exemplo disso é o fato, cada vez mais comum, de ficar morando com os pais por muitos anos depois de adultos. E o comportamento em casa de quem mora com os pais é de adolescentes, geralmente sem qualquer responsabilidade. Quando Alice corta a cabeça do monstro, ela diz adeus à adolescência e se posiciona como mulher adulta que sabe que é Alice e que pode muito mais do que a imagem de lourinha fragilzinha pode fazer supor. Ela se torna Independente, que é aquilo que buscamos através de nosso desenvolvimento desde o momento em que nos colocamos de pé e aprendemos a andar. Aí começa uma nova jornada!

O que você faz com seus talentos?

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Na metodologia do Trabalho Biográfico dividimos a vida em períodos de 7 anos, que chamamos Setênios. Esta divisão tem um propósito didático, mas contém em si uma sabedoria, já conhecida dos antigos filósofos gregos, que primeiro propuseram esta divisão. Cada passagem de setênio é marcada por acontecimentos que levam a vida para uma direção diferente. Às vezes esses acontecimentos são externos, fatos verdadeiramente, mas muitas vezes são internos, mudanças de nossa percepção em relação ao mundo. Sejam internos ou externos, esses acontecimentos provocam crises na nossa existência.
Por volta dos 28 anos, às vezes um pouco antes ou um pouco depois, vivemos a Crise dos Talentos. Até os 21 anos fomos educados, e no início da vida adulta experimentamos o que aprendemos em nossa vida pessoal, amorosa e profissional, muitas vezes de forma impulsiva, guiados mais pelos sentimentos e sensações do que pela razão. Chegando aos 28 anos, estamos desenvolvendo mais o pensamento racional, e cada decisão passa a ser muito mais pesada e medida do que apenas sentida. Muitas pessoas dizem que “agora a juventude acabou”, e buscam situações mais estáveis na vida. Por exemplo, se você mudou muito de emprego, sempre seguindo as propostas e possibilidades de aprender algo novo, agora já buscará estabelecer um momento mais estável na sua carreira, seja através de um emprego ou mesmo por conta própria. Não estou falando de arrependimento em relação às mudanças do início da vida adulta, já que essa multiplicidade de experiências fez com que você desenvolvesse múltiplos talentos.
E a Crise dos Talentos leva você a pensar: “saí pelo mundo, pela vida, vivi muitas situações, aprendi muita coisa, desenvolvi muitos talentos mas… e agora? O que eu faço com meus talentos daqui para a frente? Sobre quais talentos eu quero trabalhar para que se desenvolvam mais e possam tornar-se uma faculdade em minha vida? Quais talentos preciso deixar de lado, totalmente ou pelo menos parcialmente, por não me servirem mais ou não me interessarem mais?”
Muitas vezes a Crise dos Talentos aparece como um questionamento de suas próprias capacidades. Em minha vida, apareceu entre os 28 e os 29 anos. Eu trabalhava como médico homeopata e pediatra em uma cidade muito pequena, perto de Nova Friburgo, e era o único homeopata da cidade. Tinha muitos clientes, ganhava bem, tinha um nome respeitado, mesmo sendo tão novo e estar formado há apenas 5 anos. Já não precisava mais dar plantões, passeava nos finais de semana com a família, viajava frequentemente. Tudo de bom! Aí começou o comichão… Eu me questionava se era realmente um bom médico homeopata ou se fazia sucesso por ser o único na cidade, tipo ’em terra de cego quem tem um olho é rei’. Resolvi mudar para Friburgo e começar a trabalhar lá, já que é uma cidade muito maior, e tem uma tradição em termos de homeopatia, sempre com muitos médicos homeopatas (proporcionalmente à população, tem mais homeopatas que a maioria das capitais). Logicamente mantive alguns dias no antigo consultório, não foi um salto sem rede de proteção, mas aos poucos fui aumentando meus horários no consultório de Friburgo, e tudo deu certo. Eu tinha talento pra coisa! Daí começou uma nova fase em minha vida, com novas possibilidades (o contato com a Antroposofia começou aí, aos 28 anos, através de uma amiga de Friburgo).
Esta Crise dos Talentos muitas vezes é deflagrada por alguém, um amigo ou alguém que passa batido pela nossa vida, que fala alguma coisa e cria esse comichão. Pode ser também um livro, um filme, mas sempre levando a um profundo questionamento do que fazer com os talentos que conquistamos até então.
Observe na sua história, se você já passou dessa idade, o que pode ter sido essa Crise dos Talentos. E, se você ainda não chegou aos 28 anos, esteja de olhos e ouvidos abertos para os questionamentos que vão surgir nesta fase. Eles vão lhe trazer uma certa angústia, afinal a palavra ‘crise’ não é retórica, mas você vai entrar num novo rumo em sua vida, num crescimento pessoal muito recompensador.

Marcelo Guerra

Artigo originalmente escrito para a Revista Personare.

Danças circulares no trabalho Biográfico

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Nos nossos biográficos fazemos danças circulares com os participantes como uma forma de integrar as pessoas e de trazer para o chão nossa vontade, nosso agir, evitando ficar muito no mental.

Encontrei no site Ciranda da Lua uma ótima explicação sobre as danças circulares e clonei aqui embaixo (não que seja necessária qualquer compreensão para praticar as danças circulares, basta alegria). Depois do artigo há um link para uma música muito especial.

A dança em círculo é uma das formas mais antigas de celebração comunitária.

O círculo é uma forma de circunferência ininterrupta e é um símbolo de totalidade, um lugar igualitário de aprendizagem.Quando um círculo está centrado ele forma uma roda ou mandala invisível, podendo causar a mudança e evolução do indivíduo, recuperando as antigas tradições nas quais os sacerdotes e curandeiros utilizavam danças relacionadas a sons específicos para “tocar a alma” de seus fiéis.

Este movimento intitulado “DANÇAS CIRCULARES SAGRADAS” foi um trabalho de resgate do bailarino alemão Bernhard Wosien que já havia passado dos 60 anos e, buscou uma prática corporal mais orgânica para expressar os seus sentimentos. Frequentando grupos de Danças Folclóricas, percebeu que ali estava o que procurava. Vivenciou alegria, a amizade e o amor, tanto para consigo mesmo como para os outros, e sentiu que a dança em roda possibilita uma comunicação sem palavras e mais amorosa entre as pessoas.

Em 1976, a pedido de Peter Caddy, Bernhard Wosien deu seu primeiro treinamento destas danças na Comunidade Espiritualista de Findhorn, no norte da Escócia. De Findhorn, este trabalho espalhou-se pelo mundo todo.

Hoje em dia podemos classificar as danças circulares da seguinte forma:

. Danças da Paz Universal

. Danças Circulares Sagradas

.Danças Diversas: cirandas, brincadeiras cantadas, danças indígenas, etc.

Esta música é de uma dança peruana que sempre usamos para integração do grupo.

A importância de brincar

Marcelo Guerra
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É na infância que se desenvolve a criatividade e se aprende a cooperar

A criança, ao nascer, ainda não tem o seu corpo pronto. Ela vai desenvolvê-lo até tornar-se adulta, mas os primeiros sete anos exibem uma mudança acentuada neste corpo. O sistema nervoso e os órgãos dos sentidos desenvolvem-se rapidamente. A criança é curiosa por natureza, aprende por imitação dos adultos, principalmente dos seus pais. O contato com a natureza permite conhecer o mundo em sua forma mais primitiva.

A principal atividade para a criança é brincar! Através das brincadeiras, uma criança aprende a relacionar-se com a natureza, com outras crianças e com os animais. Principalmente ela se diverte, expande sua alegria, encontra sentido em sua vida.

Cada geração, desde os anos 1960, limita mais um pouco a possibilidade das crianças brincarem. Primeiro foi a televisão, que chegou a ser chamada de babá eletrônica. Muito prático: você põe a criança em frente à TV, e desenhos animados e louras fazendo-se de animadas hipnotizam-na, raptando toda a sua atenção. A TV faz tudo, a criança não faz nada. Criatividade? Zero! Atividade? Zero! A criança sofre uma massificação de interesses, ideias e sentimentos pela ação das muitas horas gastas em frente à TV.

Vieram os videogames e houve um aumento na atividade, já que pelo menos os dedos se mexem… Contudo, a criatividade continua nula, pois a criança apenas reage ao estímulo provocado pelo videogame. Muitas mães de filhos hiperativos relatam que a criança só ‘se acalma’ com videogame. Na realidade, ele muda a cena e o estímulo continuamente e, como a criança hiperativa não consegue fixar a atenção e por isso fica agitada, a mudança permanente de estímulo do jogo acompanha os pulos que a sua mente sofre.

Por último, chegaram os computadores (e celulares, smartphones, e ainda vem mais coisa por aí). A criança navega na internet, joga, posta mensagens no Orkut. Parece maravilhoso! Só precisamos lembrar que tudo ali é virtual. O mundo real está lá fora, cada vez mais longe do alcance da criança. É preciso ir ao zoológico para uma criança dos anos 2000 saber o que é uma vaca, e que é aquele animalzão chifrudo e meio lento que produz leite, e não a caixinha!

Além dessas ‘diversões’ a criança tem compromissos: aula de inglês, judô, ballet, natação, e tudo que a imaginação possa inventar. O objetivo é ‘preparar a criança’ para o mundo, que é competitivo, cheio de compromissos. O mercado de trabalho hoje é duro, quase não há mais empregos, o empreendedorismo precisa ser estimulado desde a infância. Muitos argumentos! Só há um detalhe: para um adulto ser criativo no trabalho, ele precisa aprender a criar, e é na infância, através das brincadeiras, que a criança desenvolve sua criatividade, além de aprender a liderar e a ser liderado, a conciliar interesses.

Quando a criança brinca, alguém chama para a brincadeira, outros acompanham, ou não. Um inventa as regras, outros as seguem, ou as modificam. A criança ri, se irrita, sente medo de ser encontrada no píque-pega, corre da bola quando joga queimada. Ação real, decisões reais, emoções reais! Brincar é aprender a ser livre e a relacionar-se com os outros com igualdade e cooperação. Que as crianças brinquem mais, para termos melhores adultos!

Para saber mais, recomendo o texto brilhante de Valdemar Setzer sobre a influência da TV sobre as crianças: A TV Antieducativa.

Artigo originalmente publicado na Revista Personare