Reviver ou resgatar ou passado?

Recentemente, recebi um e-mail com críticas ao trabalho da Terapia Biográfica, alegando que seria uma forma de reviver o passado e não viver o presente, citando vários filósofos e gurus. Respondi que a Terapia Biográfica tem o objetivo de encontrar sentido através da observação de fatos da própria vida, que são revistos de maneira objetiva, separando o que são fatos do que são sentimentos. Por isso, a proposta em nenhum momento é “reviver” o passado, mas resgatá-lo, para compreender o presente e mudar o futuro.

Existem várias formas de iniciação, baseadas em ensinamentos de diversos mestres e tradições, mas nenhuma tão sensível a realizar mudanças em nossas vidas quanto à compreensão da própria biografia. Este é o significado de “resgatar o passado”, obter o entendimento da história que vivemos até agora, para perceber que o nosso comportamento hoje é determinado em grande parte por esta história, que não pode ser mudada, mas compreendida. Neste ponto, o momento presente deixará de ser governado por padrões de comportamento nem sempre agradáveis.

Viver o presente muitas vezes pode significar repetir padrões criados no passado. Esses padrões são inconscientes e geralmente nos damos conta deles justamente quando olhamos para trás. Vemos várias situações que, no momento em que aconteceram, pareciam tão originais, revelarem-se as mesmas, mas com personagens diferentes. Resgatar o passado é justamente tirar a sua vida de lá e trazê-la para o presente, deixando de ser refém do que passou, repetindo padrões que já não cabem mais.

Viver o momento atual não pode significar jogar o passado para baixo do tapete, como se não houvesse existido. Porque muito do que vivemos hoje foi construído por ações e omissões nossas no passado. E o futuro poderá ser moldado com metas seguras, afinal estaremos navegando em mares agora conhecidos, apesar das novidades que sempre surgirão em nossas vidas. Quando resgatamos o passado, percebemos esses padrões e podemos conscientemente transformar nossas vidas de forma que atuemos a partir do que o momento presente nos pede e não a partir da repetição de padrões.

A Terapia Biográfica enfatiza a responsabilidade pessoal pela própria vida. Longe da ideia do “homem que se faz sozinho”, mostra que é preciso também reconhecer as ajudas que recebemos (mesmo quando elas vieram disfarçadas de obstáculos no caminho). Devemos ter consciência do que conquistamos por nossas iniciativas. Na minha situação, por exemplo: há 20 anos eu sou médico e tive que renunciar a muita coisa para conseguir isto. Também tive ajuda de meus pais, de professores, de colegas, para chegar aqui – e tive que enfrentar obstáculos também. O sentido que esta ajuda e que meu esforço para atingir este objetivo revelam pode me ajudar a estabelecer metas para as conquistas que ainda almejo, e trabalhar hoje em cima delas. A mesma responsabilidade pessoal deve ser buscada nos fatos desagradáveis da vida: o que eu faço para que eles aconteçam? Desta maneira, a sua própria história torna-se o seu grande mestre. E assim você pode viver o agora plenamente!

Marcelo Guerra

Artigo originalmente publicado na Revista Personare.

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