Este texto é o prefácio da excelente cronista Martha Medeiros a respeito do amor.
Martha Medeiros*
A porta se abre. Ela entra primeiro, e ele logo atrás. Alinham-se e continuam a caminhada festa adentro, acabaram de chegar. Quem são eles? Um casal, apenas. E não importa que haja uma infinitude de casais formados no planeta: sempre que estamos diante de um, algum magnetismo ele nos provoca.
Um casal nunca é uma unidade, por mais que se tenha tentado difundir a idéia absurda de “dois em um”. Esta teoria serve para aparelhos eletrônicos, não para seres humanos. Um casal é formado por duas individualidades que, num determinado momento, cruzaram seus olhares e a partir disso potencializaram suas vidas. Uma das minhas distrações prediletas é observar um casal na fila do cinema ou namorando na beira da praia e pensar: em que circunstância um interceptou o caminho do outro? Talvez tenham sentado lado a lado num avião, talvez tenham se cruzado dentro de um hospital, quem sabe até se odiaram à primeira vista. Quem terá dado o primeiro passo para iniciar uma relação que selou seus destinos?
Este livro que você tem nas mãos conta um pouco sobre os bastidores amorosos de casais notórios. Lampião, o cangaceiro vingativo e violento, era também romântico a ponto de ter casado com Maria Bonita, primeira mulher a marcar presença no interior do sertão. Salvador Dalí, o gênio do surrealismo, inverteu a ordem natural das coisas: enquanto na Espanha era costume as esposas assinarem seus nomes como se elas fossem propriedade dos maridos (esperava-se que Gala assinasse “Gala de Dalí”), ele é que passou a assinar “Dalí de Gala”.
Jorge Amado foi aconselhado por um amigo a não se aproximar de Zélia Gattai porque não era mulher pro bico dele, e ainda bem que homens apaixonados não escutam ninguém. Yoko Ono é acusada até hoje de ter sido o pivô do fim dos Beatles, mas a verdade é que ela e o finado Lennon seguem sendo um dos casais mais emblemáticos do século 20. Napoleão só pensava em guerra? Que nada, era em Josefina que sua cabeça estava o tempo todo, mesmo quando ele batia ponto nos campos de batalha. O que estes artistas, imperadores, heróis, mártires e justiceiros têm a ver com o resto da humanidade? Sabiam que a solidão não soma, apenas subtrai.
Um casal é 1 + 1. Uma tímida com um extrovertido. Um esportista com uma intelectual. Uma sonolenta com um boêmio. Um duro com uma ricaça. São muitos homens e mulheres (e demais arranjos) com bem mais diferenças do que afinidades: almas gêmeas é coisa que não existe, lamento informar. As combinações são sempre bombásticas e efervescentes, pelo simples fato de que ninguém nasceu para ninguém, apenas temos a sorte de vivenciar um encontro que muda o rumo da nossa história. Todo casal é transgressor, todo amor margeia o impossível. Por mais que as revistas tentem dar dicas de sobrevivência conjugal e sinalizem sobre como deve ser um casamento perfeito, a verdade é que cada dupla estabelece suas próprias regras e ninguém consegue catalogá-las: todos os casamentos estão fora dos padrões. Nada é mais exclusivo e dinâmico que um casal. A não ser que já não seja um casal, que os dois tenham se transformado em 1 – 1.
Este livro relembra affairs que se tornaram romances célebres e marcaram época. Numa análise ligeira, parece uma seleção de poucos eleitos que viveram o idílio de uma paixão inesgotável. Mas vamos ser justos: não há entre nós, simples mortais, quem não tenha vivido também uma bela história pra contar.
* Prefácio do livro “Casais – Histórias de amor que resistem ao tempo”, da Editora Nova Fronteira
Marcelo,
Gosto de vir aqui, sempre aprendo com vc. Adoro suas visitinhas .Têm postagem nova apareça!!!Beijão.
eu gostei muito ! 😀