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Princípios Educacionais da Antroposofia

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Nos primeiros anos de vida, a criança aprende por imitação. Mesmo na adolescência, os bons exemplos recebidos dos adultos são o que forma a estrutura moral e de valores do ser humano. É o que ensina a ciência espiritual de Rudolf Steiner, médico alemão que, no começo do Século XX, fundou as bases da Antroposofia
Duas palavras mágicas caracterizam a maneira como a criança se relaciona com o mundo: imitação e exemplo. O filósofo grego Aristóteles denominou o homem como o animal mais propenso a imitar; essa verdade vale para a idade infantil, até os sete anos, mais do que para qualquer outra. O que acontece no ambiente físico, a criança imita, e essa imitação confere aos órgãos físicos suas formas definitivas. Devemos considerar o ambiente físico em sua acepção mais ampla, incluindo nele não apenas o que se passa materialmente ao redor da criança, mas tudo o que ocorre, o que seus sentidos percebem, o que, a partir do espaço físico, é suscetível de agir sobre as forças espirituais. Isso inclui todas a ações morais e imorais, inteligentes e tolas que a criança possa perceber.
Não são, pois, as sentenças morais nem os ensinamentos da razão que atuam nesse sentido sobre a crianças, mas apenas o que os adultos fazem em sua redondeza de maneira visível. Preceitos deste tipo têm efeito plasmador, não sobre o corpo físico, mas sobre o etérico; porém esse, até a idade dos sete anos, tem o envoltório etérico protetor da mãe exatamente como, fisicamente falando, o corpo físico foi protegido antes do nascimento pelo envoltório materno.
O que deve desenvolver-se nesse corpo etérico antes do sétimo ano, quanto a representações, hábitos, memória, etc., deve fazê-lo espontaneamente, tal como o fazem os olhos e as orelhas no ventre da mãe sem que haja intervenção da luz exterior.
Seus órgãos físicos adquirem forma pela influência do ambiente físico. A visão desenvolve-se sadiamente quando existem no ambiente da criança fenômenos apropriados de luz e cor; no cérebro e na circulação sangüínea, formam-se as disposições para um sentido moral sadio, desde que a criança perceba em seu ambiente fatos morais. Se antes da idade de sete anos a criança vê ao seu redor apenas atitudes tolas, o cérebro adquire formas tais que a capacitam apenas para tolices na vida posterior.
Assim como os músculos da mão se tornam fortes e vigorosos quando exercem atividades apropriadas, o cérebro e os demais órgãos do corpo humano seguem o rumo certo quando recebem do ambiente os impulsos adequados.
Pode-se fazer para a criança uma boneca com um guardanapo dobrado: duas pontas serão os braços, as outras as pernas, um nó servira para a cabeça. Tendo à sua frente o guardanapo dobrado, a criança deve, por meio de sua fantasia, acrescentar algo que o transforme em figura humana. Essa atividade da fantasia tem efeito plasmador sobre as formas do cérebro. Porém, se a criança ganha uma linda boneca rosto de porcelana, nada resta ao cérebro para fazer, e ele atrofia-se em vez de desabrochar.
Se os homens pudessem olhar, como pode fazê-lo o pesquisador espiritual, para dentro do cérebro empenhado em estruturar suas próprias formas, com toda a certeza só dariam a seus filhos brinquedos suscetíveis de avivar as forças plasmadoras do cérebro.
Nossa época materialista produz poucos bons brinquedos. Veja-se como é saudável aquele brinquedo que, mediante dois pedaços de madeira deslocáveis, mostra dois ferreiros virados um contra o outro, martelando um objeto. Ótimos, também, são os livros ilustrados com figuras móveis: puxando os fios fixados nessas figuras, a criança transforma a ilustração morta em imagem animada. Tudo isso provoca a atividade íntima dos órgãos, a partir da qual se constróem as formas corretas para eles.
De acordo com a Ciência Espiritual, uma criança nervosa e irrequieta e outra letárgica e fleumática devem receber tratamentos diferentes, a começar pelo ambiente em que vivem. A esse respeito tudo é importante, desde as cores do quarto e dos objetos que normalmente rodeiam a criança até as cores das roupas com as quais ela é vestida.
Quando não se segue a orientação da Ciência Espiritual, freqüentemente se faz o contrário, pois os conceitos materialistas conduzem, em muitos casos, a soluções incorretas. Uma criança excitada deve ser rodeada e vestida de cores amarelas e vermelhas; no caso de uma criança impassível, convém recorrer a tonalidade azuis e esverdeadas. O que importa é a cor complementar produzida interiormente. No caso do vermelho, será a cor verde; no do azul, a alaranjada – como facilmente constatamos ao olhar durante algum tempo para uma superfície colorida nessas cores e depois fixar o olhar rapidamente numa superfície branca. Essa cor complementar é produzida pelos órgãos físicos da criança e provoca as estruturas orgânicas correspondentes, de acordo com suas necessidades. Se a criança irrequieta tem ao seu redor uma cor vermelha, esta produz intimamente a imagem complementar verde, que tem efeito calmante, e assim os órgão adquirem tendência à calma.
Convém levar em conta que o próprio corpo físico determina, nessa idade, o que lhe convém. Ele faz isso desenvolvendo adequadamente os apetites. De maneira geral, pode-se dizer que o corpo físico sadio requer o que lhe faz bem. Enquanto se tratar do corpo físico da criança, convém observar quais são os desejos do apetite sadio e da alegria. A alegria e o prazer são as forças que melhor plasmam as formas físicas dos órgãos.
Podemos incorrer em graves erros a esse respeito, deixando de proporcionar um entrosamento perfeito da crianças com seu ambiente físico. Isso pode acontecer em particular com os instintos relativos à alimentação. Podemos abarrotar a criança com certos alimentos, a ponto de fazê-la perder totalmente os instintos sadios relativos à comida; por meio de uma alimentação correta, esses instintos podem ser mantidos de tal maneira que a criança só solicite o que lhe for conveniente (isso se aplica até a um simples copo de água), enquanto recusa o que pode prejudicá-la.
Entre os impulsos que têm efeitos plasmadores sobre os órgãos físicos encontramos, pois, a alegria provocada pelo ambiente e, dentro desse, os rostos alegres dos educadores, como um amor antes de tudo sincero, nunca simulado. Tal amor, permeando calorosamente todo o ambiente, incuba, no verdadeiro sentido da palavra, as formas dos órgãos físicos.
Quando a criança pode imitar tais exemplos sadios numa atmosfera de amor, ela se encontra em seu elemento adequado. Deve-se observar rigorosamente que, ao seu redor, nada ocorra que ela não deva imitar. Ninguém deveria praticar qualquer ação dizendo-lhe isso você não pode fazer. Quando se vê a criança rabiscar letras muito antes de compreender seu sentido, constata-se que ela procura, nessa idade, apenas imitar. Aliás, é bom que ela primeiro imite estes signos e somente mais tarde entenda seu significado. Com efeito, a tendência a imitar pertence à época em que se desenvolve o corpo físico, enquanto a interpretação do sentido diz respeito ao corpo etérico. É conveniente atuar sobre este ultimo só depois da troca dos dentes, quando já se desprendeu o envoltório etérico. Todo aprendizado deveria ocorrer, nessa época, especialmente pela imitação. É ouvindo que a criança melhor aprende a falar. Quaisquer regras e qualquer instrução artificial nada podem trazer de bom.
Nos primeiros anos da infância, meios educativos como as canções devem impressionar os sentidos por seu belo ritmo. O que importa não é tanto o conteúdo, mas a beleza sonora. Quanto mais algo vivifica a visão e o ouvido, tanto melhor. Nunca se deveria subestimar a força plasmadora de movimentos de dança acompanhando o ritmo de uma música.
Com a segunda dentição, o corpo etérico se liberta de seu envoltório etérico; começa então a época em que se pode exercer sobre ele uma influência pedagógica externa. Convém ter em mente quais fatores atuam de fora sobre o corpo etérico. Sua transformação e seu desenvolvimento caminham a par com uma transformação e uma mudança das inclinações, dos hábitos, da consciência, do caráter, da memória e dos temperamentos. O que atua sobre o corpo etérico são imagens, exemplos e uma orientação disciplinada da fantasia. Assim como até os sete anos de idade a criança deve ter exemplos físicos para serem imitados, entre a troca de dentes e a puberdade seu ambiente deve conter tudo o que possa orientá-lo por seu valor intrínseco e seu sentido. Isso ocorre com tudo o que atua através de imagem e por analogia.
O corpo etérico desenvolve sua força quando uma fantasia bem orientada pode seguir, como modelos e idéias, as imagens e impressões extraídas da vida ou recebidas pelo ensino. O que atua harmoniosamente sobre o corpo etérico em desenvolvimento não são conceitos abstratos, mas o elemento plástico – não o sensorial, mas o espiritual visível. A observação espiritual é o meio educativo mais apropriado para esses anos. Daí a importância, para o jovem, de ter à sua volta mestres, personalidade cujas maneiras de ver e julgar o mundo possa despertar nele as forças intelectuais e morais desejáveis.
Assim como imitação e exemplo eram as palavras mágicas para a educação dos primeiros anos, para os anos ora focalizados o são a aspiração a idéias e a autoridade. A autoridade natural, não-imposta, deve constituir a evidência espiritual imediata para que o jovem forme consciência, hábitos e inclinações e discipline seu temperamento, com cujos olhos observa o mundo. Valem principalmente para essa idade as belas palavras do poeta: cada um deve escolher o herói a quem pretende imitar em sua ascensão ao Olimpo.
Veneração e respeito são forças que devem fazer crescer o corpo etérico de maneira sadia. Quando falta essa veneração, as forças vivas do corpo etérico se atrofiam. Imaginemos a seguinte cena e o efeito produzido por ela sobre um menino de, digamos, oito anos de idade. Alguém lhe conta algo a respeito de uma pessoa particularmente venerável. Tudo o que ele ouve lhe incute um temor quase sagrado. Aproxima-se o dia em que ele deve ter o primeiro encontro com essa pessoa. Ao pressionar a maçaneta da porta atrás da qual deverá aparecer o ser venerável, um tremor de respeito o invade. Os belos sentimentos gerados por semelhante experiência permanecerão entre as reminiscências mais duradouras da vida. Feliz é o adolescente que pode elevar seu olhar para o mestre e educador como autoridades naturais, e isso não apenas em alguns momentos excepcionais, mas durante toda a juventude! Além dessas autoridades vivas, verdadeiras encarnações da força moral e intelectual, deve haver as autoridades
espirituais aceitas.
O rumo espiritual do jovem deve ser determinado pelas grandes figuras da História, pela descrição de homens e mulheres modelares e não por princípios abstratos de moral, que só atuarão efetivamente depois que o corpo astral se tiver despedido de seu envoltório astral, na época da puberdade. Tais considerações devem nortear sobretudo o ensino da História.
Antes da troca dos dentes, todas as histórias, contos, etc. terão como único fim trazer à criança um ambiente de alegria e riso; mais tarde, as histórias deverão conter, além disso, imagens vívidas que incitem nos adolescentes o desejo de igualar os feitos descritos. Não se deve esquecer que maus hábitos podem ser combatidos por meio de imagens repugnantes apropriadas. Quando existem tais maus hábitos e inclinações, pouco adianta recorrer a admoestações. Contudo, muito pode ser feito para erradicá-los por meio de imagens realistas de homens maus que possuam os mesmos defeitos e sofram suas conseqüências negativas em sua vida posterior.
Convém ter em mente que não é de conceitos abstratos que o corpo etérico em formação recebe impulsos profundos, mas sim de imagens vívidas em sua clareza espiritual. É necessário, naturalmente, proceder com bastante tato para não provocar um efeito contraproducente. O que importa é a maneira como se contam as histórias. Por esse motivo, um conto bem narrado nunca pode ser substituído por uma leitura.
Fonte: Rudolph Steiner, A Educação da Criança Segundo a Ciência Espiritual (Antroposófica)
* Pseudônimo do escritor alemão Johann Paul Friedrich Richter (1763-1825)

OS DOMINGOS PRECISAM DE FERIADOS

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Por Nilton Bonder

Toda sexta-feira à noite começa o shabat para a tradição judaica. Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso divino, no sétimo dia da Criação.

Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo.
A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.

Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.

Hoje, o tempo de ‘pausa’ é preenchido por diversão e alienação. Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações ‘para não nos ocuparmos’. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão.

O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições. Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo..

Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping. A Internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme. As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim.

Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente. As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado…

Nossos namorados querem ‘ficar’, trocando o ‘ser’ pelo ‘estar’. Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI – um dia seremos nossos?

Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante. Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos…

Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é uma interrupção.

O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair – literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida. A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é ‘o que vamos fazer hoje?’ – já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de Domingo.

Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande ‘radical livre’ que envelhece nossa alegria – o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.

Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar.

Afinal, por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído.

Fundamentalismos

>>Publicado originalmente em O Pensador Selvagem

O fundamentalismo separa, causa divergências e leva a guerras. A tolerância é o alimento da paz.

Fundamentalismo é o termo usado para se referir à crença na interpretação literal dos livros sagrados. Fundamentalistas são encontrados entre religiosos diversos e pregam que os dogmas de seus livros sagrados sejam seguidos à risca.

O termo surgiu no começo do século 20 nos EUA, quando protestantes determinaram que a fé cristã exigia acreditar em tudo que está escrito na Bíblia. Mas o fundamentalismo só começou a preocupar o mundo em 1979, quando a Revolução Islâmica transformou o Irã num Estado teocrático e obrigou o país a um retrocesso aos olhos do Ocidente: mulheres foram obrigadas a cobrir o rosto e festas, proibidas. “Para quem aprecia as conquistas da modernidade, não é fácil entender a angústia que elas causam nos fundamentalistas religiosos”, escreveu Karen Armstrong no livro Em Nome de Deus: o Fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo.

Porém, não são apenas os muçulmanos que têm seus fundamentalistas, também os cristãos, os judeus e, por incrível que possa parecer, os ateus e os céticos. A atitude fundamentalista não permite diálogo, porque suas verdades são únicas e incontestáveis, e quem diverge delas é desqualificado, quando não ridicularizados ou atacados pessoalmente.

Em muitas situações podemos atuar de forma fundamentalista, excluindo a possibilidade de compreender e dialogar com o outro. Pessoas que participam de grupos de defesa dos direitos dos animais vêem com imenso desprezo quem não gosta de animais. Vegetarianos podem arrepiar-se ao passar na porta de uma churrascaria. É óbvio que nem todos são fundamentalistas, graças a Deus, ou graças a Richard Dawkins.

Tolerância e diálogo devem ser nossos lemas na relação com outros seres humanos, esta é a base da verdadeira paz!

Marcelo Guerra

Namastê!

Há quase 11 anos atrás estive no Nepal, estudando Medicina Ayurvedica e Medicina Tibetana, e conhecendo a cultura local. De tudo, o mais fascinante é a forma de cumprimento que eles usam, o Namastê, em que as duas mãos se unem na frente do peito, e a cabeça é inclinada para frente. O significado deste cumprimento é “O Deus que há em mim saúda o Deus que há em você.”

Neste gesto e nesta palavra há implícito um enorme respeito pelo outro ser humano, que é considerado um portador de Deus. Diante de tanta violência, de tantos desrespeitos, esquecemos que o ser humano é o que há de mais sublime na Terra. E nossos atos precisam ser permeados pelo que temos de Deus dentro de nós. Portanto, através deste gesto, as pessoas elevam-se acima de suas diferenças e buscam uma conexão com o outro.

Vejamos alguns exemplos de como esquecemos que Deus está dentro de cada ser humano. No fim do ano de 2007, um rapaz foi torturado até a morte dentro de casa por PMs no estado de São Paulo. No reveillón de Copacabana foram disparados tiros no meio da multidão e a suspeita maior é de que foram disparados na própria praia. A mídia fala incessantemente sobre o aquecimento global e, no entanto, no período de estiagem foram feitas várias queimadas criminosas.

O Deus que está dentro de nós pode ser chamado por vários nomes, como Eu Superior, Eu Interior, Poder Superior, etc, mas é o mesmo princípio de que somos mais do que podemos ser, somos mais do que nosso cotidiano de trabalho, preocupações, contas, engarrafamentos e más notícias nos permite acreditar. Leonardo Boff escreveu um livro chamado “A Águia e a Galinha”, que fez grande sucesso nos anos 90, e dele extrai este trecho abaixo:

Cada um hospeda dentro de si uma águia. Sente-se portador de um projeto infinito. Quer romper os limites apertados de seu arranjo existencial. Há movimentos na política, na educação e no processo de mundialização que pretendem reduzir-nos a simples galinhas, confinadas aos limites do terreiro. Como vamos dar asas à águia, ganhar altura, integrar também a galinha e sermos heróis de nossa própria saga? (Leonardo Boff)

Saber reconhecer em si esta qualidade divina é o diferencial que pode tornar nosso mundo mais fraterno e agradável de se viver. Portante, Namastê para você!

O Natal Dentro de Mim

 >>Este artigo foi originalmente escrito para o site O Pensador Selvagem.

O Natal é a comemoração do aniversário de Jesus Cristo. Hoje este significado se diluiu muito nos apelos publicitários, e é muito mais a comemoração dos presentes e da ceia. Até aí, tudo bem, afinal estaremos comendo junto com pessoas que amamos e trocando presentes com elas. Por que precisa ser tão estressante? O primeiro motivo de estresse é a escolha do local da ceia. Alguém vai ser desagradado, porque o momento top é a ceia na noite de 24 de dezembro. Assim, quem “sobra” para o almoço ou, pior ainda, a tarde do dia 25, se sente imensamente desprestigiado. Quem é casado ou é filho de pais separados sabe bem do que estou falando.

Segundo motivo de estresse: os presentes. É preciso escolher algo que o presenteado goste e que não vá achar barato demais. (Com certeza no dia 26 tudo estará mais barato mesmo, por isso este ano eu já avisei que os presentes vão atrasar. Um pouco de cara de pau ajuda…). Eu ando pelas ruas aqui em Friburgo, no Rio ou em Niterói, e parece que todos estão fazendo as últimas compras antes do ataque nuclear. Que correria! E quando você cumpre todo aquele ritual e o presente não agrada, o presenteado sorri com aquele sorriso amarelo que você traduz como “vou passar isso adiante para o primeiro aniversariante do ano.” Como deve ser difícil fazer aniversário em janeiro…

E o aniversariante do Natal continua esquecido. Encontrei uma frase de um poeta alemão do século XVII chamado Angelus Silesius: “Mesmo se Cristo nascesse mil vezes em Belém, e não dentro de você, então você permanecerá perdido para sempre.” As preocupações com a ceia e os presentes nos afastam cada vez mais desta possibilidade de Cristo nascer dentro de nós. Elas encobrem esta dificuldade que temos de buscar o espiritual lá além da prática religiosa, além dos discursos cheios de palavras cristãs, onde encontramos nossas limitações, dúvidas e medos, ou seja, dentro de nós mesmos.

Cristo nasce dentro de nós quando resolvemos transformar nossas vidas, nosso jeito de ser, tornando concretos conceitos como “amar o próximo”, “perdoar 7×77 vezes”, “buscar as coisas do alto”, etc. Enquanto estas frases forem apenas conceitos, peças retóricas, Cristo ainda não nasceu dentro de nós.

Este ano eu resolvi colocar um pouco (pouco mesmo) mais de Cristo no meu Natal. Junto com minha mulher e minhas filhas fizemos um presépio de argila, com nossas próprias mãos, e esta vivência já foi muito importante, porque enfatiza QUEM é o homenageado. Tenho procurado ler mais sobre o assunto e tenho entrado em contato com os amigos, aqueles que eu gostaria de ter tido mais contato durante o ano e não pude. Pelo menos estou ligando para desejar feliz Natal, para saber como anda a vida deles, ao invés de passar o tempo todo olhando para meu umbigo. É pouco, muito pouco, mas é um início.

Feliz Natal para você e não se esqueça do aniversariante!

O Que É Espiritualidade

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Do livro: “ESPIRITUALIDADE – Um Caminho de Transformação”

de Leonardo Boff

Agora cabe colocar diretamente a pergunta: afinal, o que é espiritualidade? Uma vez fizeram esta pergunta ao Dalai-Lama e ele deu uma resposta extremamente simples: “Espiritualidade é aquilo que produz no ser humano uma mudança interior”.
Não entendendo direito, alguem perguntou novamente:
– Mas se eu praticar a religião e observar as tradições, isso não é espiritualidade?
O Dalai-Lama respondeu:
– Pode ser espiritualidade, mas, se não produzir em você uma transformação, não é espiritualidade. E acrescentou:
– Um cobertor que não aquece deixa de ser cobertor.
Então atalhou a pessoa:
– A espiritualidade muda ou é sempre a mesma coisa?
E o Dalai-Lama falou:
– Como dizem os antigos, os tempos mudam e as pessoas mudam com ele. O que ontem foi espiritualidade hoje não precisa mais ser. O que em geral se chama de espiritualidade é apenas a lembrança de antigos caminhos e métodos religiosos.
E arrematou:
– O manto deve ser cortado para se ajustar aos homens. Não são os homens que devem ser cortados para se ajustar ao manto.

Parece-me que o principal a ser retido desse pequeno diálogo com o Dalai-Lama é que espiritualidade é aquilo que produz dentro de nós uma mudança. O ser humano é um ser de mudanças, pois nunca está pronto, está sempre se fazendo, física, psíquica, social e culturalmente. Mas há mudanças e mudanças. Há mudanças que não transformam nossa estrutura de base. São superficiais e exteriores, ou meramente quantitativas. Mas há mudanças que são interiores. São verdadeiras transformações alquímicas, capazes de dar um novo sentido à vida ou de abrir novos campos de experiência e de profundidade rumo ao próprio coração e ao mistério de todas as coisas. Não raro, é no âmbito da religião que ocorrem tais
mudanças. Mas nem sempre. Hoje a singularidade de nosso tempo reside no fato de que a espiritualidade vem sendo descoberta como dimensão profunda do humano, como o momento necessario para o desabrochar pleno de nossa individuação e como espaço da paz no meio dos conflitos e desolações sociais e existenciais.

A Primeira Árvore de Natal

Presépio

A primeira Árvore de Natal
( conto tradicional da Alemanha)
Em Nazaré, aquela região tranquila em que crescia o Menino Jesus, vivia uma pobre mulher. Deus havia lhe presenteado com sete filhinhos, mas não havia pão suficiente para alimentá-los. A fome era hóspede constante naquela casa.
O pai já estava debaixo da terra e o trabalho das mãos da mãe não bastava para encher as sete barriguinhas. Mas Deus não abandona os Seus. Enviou-lhes seu próprio Filho, o Menino Jesus, que muitas vezes brincava com as
crianças. E quando ficavam cansados de correr e brincar, Jesus levava o grupinho para sua casa. Mãe Maria então esquentava leite, uma grande jarra cheinha, cortava uma montanha de fatias de pão e passava manteiga e mel nelas. E as crianças famintas avançavam alegres a conquistar aquela montanha e depois voltavam felizes e satisfeitas com a sua mãezinha.
O pequeno Menino Jesus havia completado sete anos. Mãe Maria não havia deixado passar esse dia sem ter realizado muitos desejos de seu querido filho. Quando Jesus, durante a noite, cansado e feliz, deitado na sua caminha, relembrava os grandes acontecimentos de seu sétimo aniversário, pensou de repente nos seus amiguinhos pobres, que com certeza nunca haviam recebido um presente no seu aniversário. Quietinho saiu de sua cama, chamou os seus sete anjinhos, pegou seus mais lindos brinquedos e de camisola pôs-se em direção a cabana no outro fim da aldeia, onde moravam as crianças pobres.
E mandou o primeiro anjinho à arvorezinha milagrosa chamada “Sacuda-te” buscar seus frutos que eram lindas roupinhas, vestidos, sapatos e meias quentinhas. O segundo anjinho foi enviado para buscar guloseimas no “País Doce”, outro teve que trazer frutas deliciosas do Jardim do Paraíso, o quarto foi buscar estrelinhas douradas da Via Láctea, e assim cada anjinho recebeu sua tarefa e sua encomenda.
E chegaram finalmente, carregados com seus tesouros, à casinha da viúva. Tudo estava escuro e silencioso. No jardim pequeno em frente da casinha havia entre canteiros de batatas e algumas flores, um pequeno cedrinho solitário, plantado para servir de repouso aos pássaros. Nos seus galhos o Menino Jesus pendurou todos aqueles belos presentes, que Ele e seus anjinhos haviam carregado até lá. E os anjinhos ajudaram, pondo os mais lindos enfeites nos galhos mais altos que o Menino não alcançava. Às vezes um fio de cabelo angelical dourado ficava preso nos galhos verdes iluminando aquelas maravilhas todas. Em cada galho e galhinho havia algo, uma maçã, um sapatinho, uma noz que havia ficado dourada ao encostar na asa de um anjo, um brinquedo, uma blusinha, um doce ou até uma estrelinha brilhante. Tendo pendurado o último presente na árvore, Jesus afastou-se silenciosamente, despediu os anjos prestativos, agradecendo-lhes a ajuda e deitou-se na sua caminha, feliz da vida.
Imaginem a alegria das crianças pobres ao ver na manhã seguinte aquela estranha árvore em frente da sua casa. Pegaram-se pelas mãos e dançaram em volta da arvorezinha milagrosa. Mais feliz ainda estava Jesus, e ficou tão contente com sua boa idéia, que decidiu fazer o mesmo em cada aniversário seu: dar essa alegria a muitas crianças, se possível, a todas as crianças do mundo.
Assim o dia de Natal transformou-se na festa mais abençoada do ano, e não há outro dia em que haja mais rostos felizes e corações alegres. Mesmo o homem mais pobre tem sua árvore de Natal, por mais humilde e pequena que seja, e alguma bondosa pessoa, de perto ou de longe, terá para ele um presente, para que a felicidade não deixe de existir no mundo.
Essa é a história da primeira árvore de Natal.
Noite de Luz – vol.2
contos para o Advento e Natal – coletânea de Karin E. Stasch
Que neste Natal saibamos reconhecer os presentes que Jesus coloca na nossa
árvore de Natal, e estejamos sempre prontos a ajudá-lo a enfeitar as árvores
de nossos irmãos.
FELIZ NATAL

O Entusiasmo

Entusiasmo

Swami Chidvilasanda (Obrigado, Tio Aldo)

O entusiasmo torna uma pessoa capaz de atingir sua meta. O entusiasmo o eleva. Quando você se conscientiza de sua enorme capacidade para o entusiasmo, descobre que há algo sagrado em seu interior. O que é?

A resposta está na própria palavra. Se você for às suas raízes, descobrirá que a palavra entusiasmo vem do grego enthusiasmus. A sílaba EN significa “em, dentro ou possuído”. e THEOS significa “Deus”. Assim, a palavra entusiasmo literalmente significa “carregando Deus no interior” ou “possuído pelo Senhor interior”! Quando você está cheio de “entusiasmo”, está cheio da energia de Deus, de um grande poder, de uma graça maravilhosa. Conscientizar-se totalmente do que você carrega em seu interior é herdar todo o paraíso. Essa consciência o liberta por completo das preocupações. Você está preenchido por Deus. O que poderia alquebrar então seu espírito? Essa nova compreensão da palavra entusiasmo evoca um desejo profundo em seu interior.

“Entusiasmo e energia são amigos muito úteis neste mundo. Você já deve ter notado como se sente espontaneamente atraído por pessoas entusiasmadas. Quando alguém está cheio de exuberância e vigor, você quer ficar perto dele.”

Jakob Boehme

Jacob Boehme

“Perceber de forma pura a constituição íntima do mundo através da segunda visão só foi possível a alguém como Jakob Boehme, que podia abandonar-se às coisas exteriores de uma forma desinteressada. Qualquer linha da obra de Jakob Boehme nos fala de um imenso amor que vivia nele e com o qual ele enxergava tudo- amor que também penetrava na sua concepção das imagens refletidas do elemento espiritual contido no universo…”

Rudolf Steiner, in: “O Conhecimento Iniciático”, Antroposófica, p. 95.

“A idéia fundamental daquele que foi o 1º filósofo alemão é que tudo dever ser mantido em uma unidade absoluta- a absoluta unidade divina e a reunião de todos os opostos em Deus. […]Uma das principais idéia de Böehme é a de que o universo constitui uma única via divina e revelação de Deus em todas as coisas”

G. HEGEL, in: “Lições sobre a história da filosofia”