“Não obstante, devo culpar-me de certa parcialidade, pois omiti o espírito do nosso tempo sobre o qual a maioria das pessoas se manifesta, pois é coisa evidente a qualquer um. Mostra-se através do ideal internacional ou supranacional, que toma corpo na Liga das Nações e em organizações análogas, bem como no esporte e, finalmente – o que é significativo – no cinema e no jazz. São sintomas bem característicos do nosso tempo, que estenderam o ideal humanístico ao próprio corpo. O esporte valoriza extraordinariamente o corpo, tendência que se acentua ainda mais na dança moderna. O cinema, como também o romance policial, tornam-nos capazes de viver sem perigo todas as nossas excitações, fantasias e paixões que tinham que ser reprimidas numa época humanística. Não é difícil perceber a relação desses sintomas com a situação psíquica. O fascínio da psique nada mais é que uma nova auto-reflexão, uma reflexão que se volta sobre nossa natureza humana fundamental. Por que estranhar então se esse corpo, por tanto tempo subestimado em relação ao espírito, tenha sido novamente descoberto? Somos quase tentados a falar de uma vingança da carne contra o espírito . Quando KEYSERLING denuncia sarcasticamente o chofer como o herói da cultura moderna, sua observação tem um fundo de verdade. O corpo exige igualdade de direitos. Ele exerce o mesmo fascínio que a psique. Se ainda estivermos imbuídos da antiga concepção de oposição entre espírito e matéria, isto significa um estado de divisão e de intolerável contradição. Mas se, ao contrário, formos capazes de reconciliar-nos com o mistério de que o espírito é a vida do corpo, vista de dentro, e o corpo é a revelação exterior da vida do espírito, se pudermos compreender que formam uma unidade e não uma dualidade, também compreenderemos que a tentativa de ultrapassar o atual grau de consciência, através do inconsciente, leva ao corpo e, inversamente, que o reconhecimento do corpo não tolera uma filosofia que o negue em benefício de um puro espírito. Essa acentuação das exigências físicas e corporais, incomparavelmente mais forte do que no passado, apesar de parecer sintoma de decadência, pode significar um rejuvenescimento, pois, segundo HÖLDERLIN: ‘Onde há perigo,surge também a salvação’.
JUNG, Carl Gustav. Civilização em transição. Tradução de Lúcia Mathilde Endlich Orth. Petrópolis: Vozes, 1993, parágrafo 195, capítulo IV, volume X/3 das Obras Completas.
Marcelo
Acredito que para nos sentirmos bem, é necessário a junção do corpo e do espiríto em harmonia. Não um culto obsessivo como podemos ver hoje em dia . MAS O CUIDADO COM ESSA MÁQUINA PERFEITA QUE DEUS CRIOU.
Porém, de nada adianta um corpo perfeito e um espiríto fatigado. Ando em busca dessa harmonia.
Belo feriado!
vou ver o mar!