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A Biografia de uma heroína moderna: Irena Sendler

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Irena Sendler
Irena Sendler

Irena Sendler em 1942.

Nascimento 15 de fevereiro de 1910
Varsóvia, Congresso da Polónia,
Império Russo Império Russo
Morte 12 de maio de 2008 (98 anos)
Varsóvia, Polónia
Nacionalidade Polónia Polaca
Ocupação Ativista dos Direitos Humanos, enfermeira e assistente social

Irena Sendler (em polaco Irena Sendlerowa née Krzy?anowska; (15 de fevereiro de 191012 de maio de 2008), também conhecida como “o anjo do Gueto de Varsóvia,” foi uma activista dos direitos humanos durante a Segunda Guerra Mundial, tendo contribuido para salvar mais de 2.500 vidas ao levar alimentos, roupas e medicamentos às pessoas barricadas no gueto, com risco da própria vida.

A Mãe das crianças do Holocausto

A razão pela qual resgatei as crianças tem origem no meu lar, na minha infância. Fui educada na crença de que uma pessoa necessitada deve ser ajudada com o coração, sem importar a sua religião ou nacionalidade. – Irena Sendler

Quando a Alemanha Nazi invadiu o país em 1939, Irena era enfermeira no Departamento de bem estar social de Varsóvia, que organizava os espaços de refeição comunitários da cidade. Ali trabalhou incansavelmente para aliviar o sofrimento de milhares de pessoas, tanto judias como católicas. Graças a ela, esses locais não só proporcionavam comida para órfãos, anciãos e pobres como lhes entregavam roupas, medicamentos e dinheiro.

Em 1942, os nazis criaram um gueto em Varsóvia, e Irena, horrorizada pelas condições em que ali se sobrevivia, uniu-se ao Conselho para a Ajuda aos Judeus, Zegota. Ela mesma contou:

Consegui, para mim e minha companheira Irena Schultz, identificações do gabinete sanitário, entre cujas tarefas estava a luta contra as doenças contagiosas. Mais tarde tive êxito ao conseguir passes para outras colaboradoras. Como os alemães invasores tinham medo de que ocorresse uma epidemia de tifo, permitiam que os polacos controlassem o recinto.
Quando Irena caminhava pelas ruas do gueto, levava uma braçadeira com a estrela de David, como sinal de solidariedade e para não chamar a atenção sobre si própria. Pôs-se rapidamente em contacto com famílias, a quem propôs levar os seus filhos para fora do gueto, mas não lhes podia dar garantias de êxito. Eram momentos extremamente difíceis, quando devia convencer os pais a que lhe entregassem os seus filhos e eles lhe perguntavam:

Podes prometer-me que o meu filho viverá?“. Disse Irena, “Que podia prometer, quando nem sequer sabia se conseguiriam sair do gueto?” A única certeza era a de que as crianças morreriam se permanecessem lá. Muitas mães e avós eram reticentes na entrega das crianças, algo absolutamente compreensível, mas que viria a se tornar fatal para elas. Algumas vezes, quando Irena ou as suas companheiras voltavam a visitar as famílias para tentar fazê-las mudar de opinião, verificavam que todos tinham sido levados para os campos da morte.

Irena Sendler em Varsóvia, 2005

Ao longo de um ano e meio, até à evacuação do gueto no Verão de 1942, conseguiu resgatar mais de 2.500 crianças por várias vias: começou a recolhê-las em ambulâncias como vítimas de tifo, mas logo se valia de todo o tipo de subterfúgios que servissem para os esconder: sacos, cestos de lixo, caixas de ferramentas, carregamentos de mercadorias, sacas de batatas, caixões… nas suas mãos qualquer elemento transformava-se numa via de fuga.

Irena vivia os tempos da guerra pensando nos tempos de paz e por isso não fica satisfeita só por manter com vida as crianças. Queria que um dia pudessem recuperar os seus verdadeiros nomes, a sua identidade, as suas histórias pessoais e as suas famílias. Concebeu então um arquivo no qual registava os nomes e dados das crianças e as suas novas identidades.

Os nazis souberam dessas actividades e em 20 de Outubro de 1943; Irena Sendler foi presa pela Gestapo e levada para a infame prisão de Pawiak onde foi brutalmente torturada. Num colchão de palha encontrou uma pequena estampa de Jesus Misericordioso com a inscrição: “Jesus, em Vós confio”, e conservou-a consigo até 1979, quando a ofereceu ao Papa João Paulo II.

Árvore plantada no Yad Vashem em homenagem a Irena Sendler.

Ela, a única que sabia os nomes e moradas das famílias que albergavam crianças judias, suportou a tortura e negou-se a trair seus colaboradores ou as crianças ocultas. Quebraram-lhe os ossos dos pés e das pernas, mas não conseguiram quebrar a sua determinação. Foi condenada à morte. Enquanto esperava pela execução, um soldado alemão levou-a para um “interrogatório adicional”. Ao sair, gritou-lhe em polaco “Corra!”. No dia seguinte Irena encontrou o seu nome na lista de polacos executados. Os membros da ?egota tinham conseguido deter a execução de Irena subornando os alemães, e Irena continuou a trabalhar com uma identidade falsa.

Em 1944, durante o Levantamento de Varsóvia, colocou as suas listas em dois frascos de vidro e enterrou-os no jardim de uma vizinha para se assegurar de que chegariam às mãos indicadas se ela morresse. Ao acabar a guerra, Irena desenterrou-os e entregou as notas ao doutor Adolfo Berman, o primeiro presidente do comité de salvação dos judeus sobreviventes. Lamentavelmente, a maior parte das famílias das crianças tinha sido morta nos campos de extermínio nazis.

De início, as crianças que não tinham família adoptiva foram cuidadas em diferentes orfanatos e, pouco a pouco, foram enviadas para a Palestina.

As crianças só conheciam Irena pelo seu nome de código “Jolanta”. Mas anos depois, quando a sua fotografia saiu num jornal depois de ser premiada pelas suas acções humanitárias durante a guerra, um homem chamou-a por telefone e disse-lhe: “Lembro-me da sua cara. Foi você quem me tirou do gueto.” E assim começou a receber muitas chamadas e reconhecimentos públicos.

Em 1965, a organização Yad Vashem de Jerusalém outorgou-lhe o título de Justa entre as Nações e nomeou-a cidadã honorária de Israel.

Em Novembro de 2003 o presidente da República Aleksander Kwa?niewski, concedeu-lhe a mais alta distinção civil da Polónia: a Ordem da Águia Branca. Irena foi acompanhada pelos seus familiares e por El?bieta Ficowska, uma das crianças que salvou, que recordava como “a menina da colher de prata”.

Proposta para o Nobel da Paz

Funeral de Irena Sendler.

Irena Sendler foi apresentada como candidata para o prémio Nobel da Paz pelo Governo da Polónia. Esta iniciativa pertenceu ao presidente Lech Kaczy?ski e contou com o apoio oficial do Estado de Israel através do primeiro-ministro Ehud Olmert, e da Organização de Sobreviventes do Holocausto residentes em Israel.

As autoridades de O?wi?cim (Auschwitz) expressaram o seu apoio a esta candidatura, já que consideraram que Irena Sendler era uma dos últimos heróis vivos da sua geração, e que tinha demonstrado uma força, uma convicção e um valor extraordinários frente a um mal de uma natureza extraordinária.

O prémio, no entanto, foi dado a Al Gore.

Holi – o Festival das Cores na Índia

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O Festival de Holi é realizado na Índia durante o Phalgun Purima, entre o final de fevereiro e o início de março. O Holi é uma comemoração que tem uma longa tradição em todo o país. As suas origens remontam a textos anteriores a nossa era e se trata de uma celebração do triunfo do bem sobre o mal.

A característica mais marcante desse festival é a de que os participantes pintam-se uns aos outros com uma espécie de pó colorido. Esse pó, disponível em diversas cores, é diluído em água antes de ser aplicado. O Holi anuncia a chegada da primavera e todo mundo é bem-vindo para participar desse festival, inclusive os turistas. Ao longo de todo esse dia, as pessoas se pintam, se abraçam e se desejam mutuamente “Feliz Holi”.

Os preparativos para o Holi começam algumas semanas antes do festival, quando muitos habitantes de Deli reúnem madeira para as fogueiras que serão acesas na noite de Holi. A festa começa com o acendimento das fogueiras ao anoitecer e continua durante todo o dia seguinte, com muita música, dança e festas espalhadas por toda a cidade.

Os historiadores contam que o Holi antecende em muitos séculos o nascimento de Cristo e são muitas as lendas que explicam o seu surgimento, em geral remetendo ao temível Rei Hiranyakashyap. Muito vaidoso, ele queria que todos em seu reino o venerassem, mas foi justamente seu filho Prahlad quem resolveu adorar uma entidade diferente, chamada Lord Naarayana. Hiaranyakashyap combinou com sua terrível irmã Holika, que tinha o poder de não se queimar, que ela entraria em uma fogueira com Prahlad em seus braços para matá-lo. Mas Holika se deu mal porque ela não sabia que o seu poder de enfrentar o fogo seria anulado quando ela entrasse na fogueira acompanhada de outra pessoa. Lord Naarayana reconheceu a bondade e devoção de Prahlad e o salvou. O festival, portanto, celebra a vitória do bem contra o mal e o triunfo da devoção.

Em 1997 eu estava em Kathmandu nesta época e foi muito divertido participar desta festa tão alegre.

Tecendo o Fio do Destino

“Destino?

Agulha no palheiro

onde o homem se procura

O tempo inteiro”

Lindolfo Bell

A Escola do Vale, em Duas Barras (RJ) convidou-me para realizar este seminário para suas professoras e iniciamos no sábado, 16 de fevereiro de 2008, às 14h. O próximo encontro será dia 15 de março, às 14h.

Novo grupo no Rio de Janeiro, começando no dia 10 de maio de 2008, sábado, às 14h, à Rua Pereira da Silva, 135, Laranjeiras. INSCREVA-SE JÁ!

PALESTRA INTRODUTÓRIA GRATUITA NO DIA 3 DE MAIO DE 2008, ÀS 9H.

Cada um de nós nasce com um destino, não como um livro previamente escrito em que cada ato nosso está previsto, mas como uma missão a nós confiada. Isto faz com que a vida tenha um sentido e, muitas vezes, sofremos com angústia ou depressão por não percebê-lo claramente. Os fatos de nossas vidas estão aí para que encontremos o Fio do Destino que, junto com o nosso livre arbítrio, tece os acontecimentos tanto no nosso mundo interior quanto na nossa vida nas comunidades em que vivemos.

Este curso tem o objetivo de buscar o fio do destino de cada um, desembaraçá-lo, tecê-lo de forma diferente, mais confortável, mais de acordo com o sentido que queremos dar para nossas vidas. Para isso trabalharemos com fatos de nossas próprias vidas. Este trabalho será feito com palavras e arte, como aquarela, modelagem em argila, tricô, desenho, contos de fadas, vídeos, teatro, etc. Ninguém precisa ser artista para participar, é claro.

Muitas das questões que nos colocamos hoje são percebidas de modo diferente quando as situamos no contexto mais amplo da vida toda. A troca de experiências de vida num grupo é enriquecedora e suaviza os sentimentos ligados a essas experiências.

O curso será coordenado por Marcelo Guerra, Médico Homeopata, Terapeuta Biográfico em formação. Terá a duração de 10 encontros mensais e um novo grupo começará no Rio de Janeiro, a partir de 10 de maio de 2008. O investimento para cada módulo será de R$100,00 (já incluído o material). As vagas são limitadas e as inscrições e mais informações podem ser obtidas pelos telefones (21)3717-5215, (22) 8112-4983 ou pelo e-mail marceloguerra@terapiabiografica.com.br

Cada um hospeda dentro de si uma águia. Sente-se portador de um projeto infinito. Quer romper os limites apertados de seu arranjo existencial. Há movimentos na política, na educação e no processo de mundialização que pretendem reduzir-nos a simples galinhas, confinadas aos limites do terreiro. Como vamos dar asas à águia, ganhar altura, integrar também a galinha e sermos heróis de nossa própria saga? (Leonardo Boff)

A Experiência de Estar Perdido – Psicologia de Lost

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Daniel Wood

 

Quando fui convidado por Joyce Werres a escrever um artigo para o IJRS, senti-me um pouco desconcertado. Para determinar alguma medida do meu desconcerto – é de rir, mas é verdade, o fato de que nunca sabemos a exata extensão em que estamos perdidos; caso contrário seria muito fácil reencontrar o caminho – tenho de confessar que não pude responder imediatamente ao convite com um “sim”, ou algo mais concreto, como “Sim, e tenho precisamente algo preparado para essa ocasião”.

       Não podia dizer plenamente meu “sim”. Tenho alguns artigos escritos por minha conta, há alguns anos que pratico esse exercício de escrita. Mas não pensei de imediato em publicar nada que tivesse escrito antes, lido ou não por outrem. Achei que o tema devia vir por si, algo que contribuísse para o momento que estou vivendo – pois, outra confissão: escrevo bem e com paixão quando o tema se apossa de mim, e considero isso uma coisa bem à moda de quem se interessa por Carl Gustav Jung e a imensa profundidade e extensão de sua obra. 

Não é, pois uma questão de dizer que sei precisamente o que se sucede. Existem lampejos: por exemplo, uso de mim o pouco que sei quando estou escrevendo – escrevo com paixão, mas isso não quer dizer que escrevo como se estivesse cavando um poço na Lua enquanto pulo carnaval em Marte a bordo de uma nave que se dirige a Saturno, e o último período não foi escrito metaforicamente. 

Esta semana estou muito sob a influência da questão que permeia a obra de Philip K. Dick, e considero algo muito próprio da psicologia complexa esse contínuo ato de perguntar o que é real e o que é ilusório, em conjunção com “o que é que constitui um autêntico humano”. Está viva em minha mente a tradução que acabei de terminar (há apenas dois dias) do texto em que Dick, considerado um dos maiores autores de ficção científica do século XX (parece-me que um dos prêmios que recebeu postumamente foi de “o maior”), em cuja obra se baseou o cinema ao filmar Blade Runner (Caçador de Andróides), O Pagamento, Screamers, Impostor, Total Recall (O Vingador do Futuro), Scanner Darkly. Uma olhada pela Internet e encontrei pelo menos um curta-metragem baseado em histórias desse escritor. Mas, desconfio sinceramente que temas como Matrix e Cidade das Sombras (Dark City), ou mesmo O Show de Truman, foram baseados, em algum grau, no pensamento inovador que Philip tem ao abordar as duas questões que o afligem. 

Também é possível pensar de outro modo, reconhecendo, como de costume, que a revolução que o pensamento junguiano representa para a humanidade está muito longe de ser delimitada. Outra série de ficção científica que fez muito sucesso na década de 1990 foi Babylon 5, cujo autor (J. M. Straczynski) interessava-se explicatamente por Jung. 

Romances são escritos, falseando a vida de Jung; mas contá-la de modo impreciso e às vezes até desonesto não é privilégio dos escritores – alguns, que se intitulam biógrafos, também o fazem dando tonalidades obscuras a algo cuja multiplicidade, estrutura e funcionamento precisa ser examinado mais detidamente do que pelo simples olhar de uma sociedade de consumo, uma configuração social que está acostumada a devorar as coisas antes mesmo de ser capaz de saber as conseqüências desse desenfreado apetite. 

Há alguns anos isso me faz selecionar continuamente, receoso, o que leio. Assim pensando, cheguei em minha casa para encontrar uma série de TV empilhada ao lado de minha televisão. Fizera o aluguel da série Lost, que tanto lugar recebe dos meios televisivos e jornalísticos nos dias de hoje, sendo chamada, ao lado de Ronaldinho, de “fenômeno”. 

Ronaldinho é um fenômeno por correr atrás da bola com maestria, embora não seja muito bom quando se trata de trabalhar em equipe. A série “Lost”, contudo, mostra um bando de gente perdida. Um vôo que se perde ao sobrevoar, desviado de sua rota, uma ilha perdida num lugar qualquer. Sem rádio, sem tevê, sem jornal. Os personagens parecem sobreviventes ao acaso, o que pensaríamos numa situação dessas à primeira vista: o vôo não foi fretado, são pessoas que por razões desconhecidas e em aparência não-congruentes foram parar lado a lado nos assentos de um vôo cuja missão era atravessar o oceano, saindo da Austrália, que os americanos chamam de “down under”. Na própria série os autores fazem questão de explicar, em um dos episódios, o motivo de escolherem (além dos custos) a Austrália como ponto de partida daquele vôo com uma anedota: “eles” (os norte-americanos) chamam a Austrália de “down under” porque é “o mais próximo que se pode chegar do inferno sem cair nele”1. Eu já vira esta expressão noutro filme de ficção “estonteante”, esse tipo de ficção que nos faz perder o rumo das coisas de chofre. Foi em “O Cubo Zero”2. Um personagem desapareceu; ao se fazer menção a ele, perguntando onde se encontra, respondem: “down under”, mas o letreiro da legenda em português diz: “Austrália”. Nada faz supor que aquele personagem tinha ido à Austrália. Ele estava morto, embora isso ainda não fosse revelado. Constata-se a partir disso que “down under” também pode significar a outra alusão à morte – pois, como se diz em português, “lá embaixo” também pode significar “debaixo da terra”. 

Estar, porém, “lá embaixo”, remete a um lugar que a civilização não está acostumada a pensar. Não em termos de mapa mundi, pois nós estamos “aqui embaixo”, ou pelo menos é que dizemos quando apontamos no mapa nossa localização. O Sul do Brasil em particular, de onde agora escrevo, está “aqui embaixo” no mapa do mundo, no mapa do Brasil, no mapa da América do Sul. 

Mas “embaixo” é uma posição que sempre se refere a algo que se supõe “em cima”. Costuma-se supor que a consciência é uma instância superior, está acima do resto do corpo se a consideramos situada na cabeça. E se o mundo estiver espetado num palito invisível, como uma dessas maçãs sendo assada ao fogo, poder-se-ia supor que a parte de baixo é essa em que estamos como na convenção do mapa – eles o fizeram, eles “lá em cima” o fizeram, então, parece natural, eles suporem que o lugar onde estão suas cabeças, não as nossas, seja “em cima”. Mas se a mão que segura o espeto estiver virada para baixo, então o lugar no mapa em que estamos “embaixo” na verdade é “em cima”. 

Tudo é uma questão de perspectiva, o modo de perceber a realidade, e Jung sabia perfeitamente bem disso, pois escreveu a respeito e salientou de vários modos essa circunstância. Einstein também falou sobre o assunto, embora em outros termos, e não tendo em vista, num primeiro momento, a perspectiva psíquica do universo. Para Einstein as linhas de campo gravitacionais que cingem o universo e fazem com que ele esteja dependurado em cordões invisíveis não têm relação imediata com a psique. A Teoria da Relatividade, tanto em sua parte geral quanto em sua parte especial, explica a questão da perspectiva de uma maneira diferente da abordagem junguiana, mas fala de coisas muito próximas à psicologia complexa. A Física também discute a realidade – impossível seria se não o fizesse, pois, se os gregos buscavam a physis, não é por acaso que também investigavam psyche como um dos elementos estreitamente relacionados ao elemento primordial do universo. Se a physis está na geração do universo, a psyche, sendo alma, é a “substância” que anima o universo, como é vento sob as asas da borboleta – e aí a noção de psyche por vezes se confunde com a noção de pneuma, como hoje as religiões confundem, eventualmente, alma com espírito. 

Não é à toa que Jung e Pauli colaboraram tanto. O conceito de sincronicidade não é uma invenção como, por exemplo, o automóvel a gasolina. É uma descoberta. É a retirada de uma ponta do véu de Ísis, que recobre todas as coisas. Uma parte do véu de Maya que se desfaz, para de novo recobrir a verdade. 

Como não é à toa, em Lost, que os personagens se encontram “ao acaso” e mais tarde os acontecimentos, em plano triplo (passado, presente e futuro se superpõem nas cenas) vão oferecendo razões para deixar claro que onde não há razão aparente existe uma trama profunda cujos ramos só deixam perceber gradações em níveis. 

A cada nível de profundidade, descobre-se mais e mais complexidade. Em flashbacks que mostram os passageiros do vôo 815 da Oceanic, um ou outro passageiro recebe o primeiro plano; enquanto isso, outros que aparecem no plano de fundo também são sobreviventes do desastre do vôo 815. Equivale a dizer que, de um modo ou de outro, seus “destinos” estavam sempre se cruzando, até esse momento crucial em que são todos reunidos numa ilha “perdida”. Antes estavam só no mesmo mundo, um planeta “perdido”, mas não “no meio” do Universo – os astrônomos da atualidade declaram de maneira praticamente unânime que estamos3 pendurados numa das pontas da Via Láctea. No entanto, desconfio que, se fosse depender do julgamento da política vigente no mundo, a Via Láctea apareceria no hemisfério superior dos mapas estelares. 

É verdade. De certo modo, estamos perdidos. Perdidos no mesmo mundo, uma ilha no grande oceano do infinito. Também em relação a nós mesmos: somos consciência mínima, luz de vela, no meio desse luzeiro imenso, que teimamos em interpretar como escuridão, que é a psique. 

De tal modo que só pode fazer sucesso estrondoso uma abordagem que evidencia, a todo o momento, como estamos perdidos, como acabamos nos encontrando uns aos outros e é esse ato de reconhecer nossos pontos em comum, nossos pontos de conexão, que dá tanto sentido a nossas amizades, às nossas afinidades, e ilumina os caminhos da vida, apresentando sinais por onde podemos ir tateando com nossas pequenas velas através da penumbra. 

De tal maneira que temos a ilusão de que não estamos perdidos, pois nos encontramos. Topamo-nos, é verdade, de modo relativo. São referências. Temo-las entre uns e outros. Somos brasileiros ou não, gaúchos ou não, paranaenses ou não, entendemos essa ou aquela língua, nascemos neste ou naquele dia, nesta ou naquela hora, e tudo isso é absolutamente relativo. Não me parece que questionemos nossa existência, isto é, se escrevo isso, se leio isso, é porque existo. Não parece que sonho a escrita, ou que a escrita me sonha lendo. Mas os leitores que conhecem Memórias, Sonhos e Reflexões hão de se lembrar da visão de Jung de que ele era a visão de um iogue, e que esse iogue, ao parar de meditar, cessaria sua (a de Jung) existência. É o que diz Philip Dick: se Deus nos pensa, existimos. Se Deus parar de nos pensar, deixamos de ser, coisa bastante estranha para o pensamento que se crê “no topo do mundo”, mas um tanto natural para quem sabe que está “embaixo”. 

Alguns se atrevem a pensar que, se não pensamos em Deus, ele não existe. Mas isso ou é uma falácia, um exercício inconseqüente de retórica, ou um convite à possessão e, por que não, à loucura também, caso de Nietzsche, segundo consta. 

Não é possível matar a Deus sem ter – antes disso – de enfrentar as conseqüências de, pelo menos, perder-se, para, se for possível o reencontro, descobrir que de fato, como disseram os antigos, Deus é imortal e também (embora não apenas) por isso é Deus. 

Estar perdido também pode ser sinônimo de estar à beira do inferno, lá embaixo. A loucura tem algo de semelhante a isso, podemos pensar neste instante. Quando Jung faz a metáfora de que é uma consciência mínima, uma vela que deve ser tomada com muito cuidado para permitir iluminar na escuridão, tem essa noção imprecisa que temos – os estudantes da psique – de que os limites entre loucura e sanidade são bastante tênues. 

Podemos, aliás, pensar que a loucura não existe. Então, desaparecem os limites. Mas se pensarmos que a loucura é um dos graus da realidade4, também poderemos ter graus de sanidade5 como sendo degraus que ocupamos na escada que visa nos levar ao que em tese almejamos: sermos autenticamente humanos, não estarmos mais perdidos, sermos capazes de localizar com precisão nosso lugar e nossa essência não só no espaço e no tempo, mas em relação ao que sabemos de nós mesmos e dos outros, semelhantes ou não. Mas a loucura existe na medida em que somos capazes de atribuir, mesmo com todo o sentido de que somos capazes, a nós ou a outrem essa coisa nonsense de cavar buracos na Lua enquanto se pula carnaval em Marte no meio de uma viagem a Saturno6. É que, com tudo que podemos compreender também podemos nos recusar, conscientemente ou não, a fazê-lo. 

Então atribuir um nome ao outro mantém nosso lugar seguro: “é louco”, “está perdido”, fica “lá embaixo”. Ou seja, “não é comigo”. São eles que estão Lost, eu estou aqui, sentado confortavelmente na frente da televisão, comendo pizza, tomando refrigerante. Do que será feito esse tempero? Cenas dos próximos capítulos. Cenas dos capítulos anteriores. 

É também por isso que Lost faz sentido. Não apenas porque descreve metaforicamente a situação do mundo hoje, mas porque sempre se pode pensar que o que está ali não é verdade, enquanto eu, que tenho o controle remoto nas mãos, sou dono da verdade, tenha ou não que trabalhar amanhã, tenha ou não que dar um sentido e uma conclusão minimamente interessantes ao que escrevo, penso e vivo. Eu é que existo, eles não. A menos que eles possam me ver na tevê e me desligar com o controle remoto, mas isso é um absurdo.

No entanto, a mente infantil é capaz de crer nisso. Crer que Deus é dono do controle remoto que pode desligar todas as histórias em todas as televisões, ou que o detentor da suprema realidade é aquele que pode derradeiramente determinar se existimos ou não, e se vivemos os três tempos ou apenas um deles, se seremos fenômeno ou não. Pelo menos achamos que só a mente infantil é capaz disso. 

Pode-se pensar que são divagações filosóficas de um diletante, talvez alguém que leu demais ou de menos, e não chegou à conclusão alguma – aliás, difícil chegar a qualquer conclusão simplesmente lendo. 

É preciso viver, é preciso escrever no livro da vida, é preciso no livro da vida se inscrever. 

Por isso Jung reputava tão vital para o ser e a individuação as rotinas da vida, essa circunstância de ter algo a que se agarrar, essa referência a partir da qual podemos nos determinar como humanos autênticos, que Philip Dick faz questão de citar em seu texto Como Construir Um Universo Que Não Se Despedaça Dois Dias Depois. 

Ter uma família, alguém a quem amamos; uma missão na vida; um cachorro, talvez um urso de pelúcia. É outro aspecto de Lost cujos personagens sentem falta, a rotina da vida cotidiana. No entanto, em Roma, fazer como os romanos. É preciso adaptar-se à vida também, criando rotinas. Quanto ao cachorro, Jung cita, quando fala da participation mistique: “você e seu cachorro no escuro”. Ter alguém (ou algo) a quem (ou ao qual) se agarrar mesmo na escuridão – embora possamos pensar que no escuro é muito fácil criar participação mística com o que quer que seja. 

Por isso também encontramos projeções: encontramos no mundo os aspectos que nos permitem fazer nele nossas almas, à semelhança do que Hillman disse, que “o mundo é lugar de fazer alma”. 

Reconhecemo-nos também no mundo, para que possamos nos reconhecer em nós mesmos: perdidos, para que possamos nos descobrir. A Oração de São Francisco de Assis é neste aspecto uma lição de sabedoria: “Que eu procure mais…” fazer do que ser feito – amar que ser amado, compreender que ser compreendido. Levar a luz às trevas, a esperança ao desespero. Ser capaz de viver a realidade e não a ilusão, e ser capaz de manifestar, na ilusão, a realidade. Coisas tão simples quando escritas e tão incrivelmente difíceis na realidade. 

“Pois é morrendo que se vive…”, porque, ao chegar lá embaixo, ou nos limites dessa situação, com freqüência surge uma oportunidade maravilhosa, algo que, dado um mínimo de percepção, nos iça de volta ao limiar da consciência e nos permite retornar à vida. Perdidos, pois precisamos ser encontrados. 

Assim é que Lost é um apelo, um chamado de e para o homem moderno. Não é para os que já sabem se sustentar e viver de si mesmos: os personagens são tontos da cidade moderna que mal sabem o que fazer no mato: um médico que não consegue reconhecer nas plantas à sua volta as substâncias de que a medicina depende; um construtor que encontra uma paisagem nua, mas não quer construir nela, quer voltar para a “civilização”, onde tudo já parece estar construído. Não há um padre, não sabem sequer fazer um ritual fúnebre, o que equivale a dizer que não têm respeito suficiente pelos mortos, e isso também que nossa sociedade perdeu a ligação com seu próprio passado. 

Há em Lost dois homens que sabem fazer muitas coisas: um era paralítico na sociedade moderna; vivia amarrado a uma cadeira de rodas, enganado pelo próprio pai e pela própria mãe7, trabalhando em uma fábrica de caixas de papel, sonhando em ser um grande explorador, um caçador e um sábio, coisa que se torna ao se encontrar na ilha, um rei, com um olho em terra de cegos. O outro, um iraquiano, ex-torturador na Guarda Republicana do Iraque, aprendeu em seu ofício de guerra a refletir sobre o valor da vida e do amor; parece por vezes ter mais consideração pelo ser humano do que os “civilizados”. É dos árabes que vem de resgate a alquimia, de descoberta a álgebra, de invenção o algarismo entre outros objetos das ciências cuja perspectiva inicial foi perdida de vista pela civilização fragmentária que esqueceu o rumo e caiu, em pleno vôo, rumo a uma ilha onde é obrigatório reconhecer que não é possível viver só. Há uma mulher, coreana, que sabe cultivar plantas, e serve de elo entre o oriente e o ocidente. Seu marido, coreano também, é o único que parece saber alguma coisa sobre a pesca. Ambos representam, relutantemente, ligações entre o homem e a natureza – os ocidentais falam de ecologia, mas sua cultura é aquela que mais se distancia dela. 

Tais personagens sugerem que aquilo que em nossa civilização pode dar condições de conhecimento de si mesmo está engessado. A exemplo disso o médico, que é o líder da turma toda, está constantemente envolto em questões que o fazem questionar sua própria capacidade de decidir, tanto quanto a de crer. É que a ciência também está engessando a criatividade humana, na medida em que constrói impedimentos à fé, pois toda criação parte de um ato de fé. Se o ser humano não puder ter o numinoso como elemento fundamental de sua existência, será difícil justificar qualquer de seus inventos. 

Isso também faz lembrar o Egito, cuja civilização durou milhares de anos: o númeno era o elemento fundamental, central, da construção da civilização egípcia. Aliás, os grandes monumentos da história representam não o que há de cotidiano e banal no homem, mas o que está muito além da aspiração diária. São representantes das “esferas fixas” em torno das quais gira o universo, segundo Hermes Trismegistus; são também elementos a priori, não funções, mas coisas anteriores mesmo às idéias; são geradores de idéias, ideais; arquétipos, fundamentos da vida. 

O apelo de Jung está mais vivo do que nunca. É preciso conferir a todos os atos da vida o fundamento psíquico, para que as coisas sejam aquilo que na verdade são, isto é, representantes do ser e facilitadores do devir. 

E pareceu-me, enfim, que estas estão entre as principais razões do sucesso “fenomênico” de Lost: é que por trás do fenômeno está o númeno, e este impulsiona àquele, sem o qual o fenômeno, destituído de alma, torna-se, no máximo, simples “coincidência”. Em Lost a princípio parece não haver númeno entre os sobreviventes do vôo que caiu, mas há a floresta, a ilha, o oceano, os perigos, e todos paulatinamente se revelam interrelacionados, além do presente, com o passado dos sobreviventes e seus destinos. Pois parece ser preciso destacar para o ser humano uma situação que lhe ofereça um deslocamento em relação ao seu cotidiano para que possa perceber, nas entrelinhas, o que também está presente no cotidiano, mas que é tão invisível, porque estamos perceptivamente embotados em relação a nossa vida diária, e esse embotamento é tão endêmico, tão subjacente a esta nossa sociedade, que o “mal do século” – segundo se dizia no início do ano 2000 em relação à depressão – não foi resolvido, nem sequer foi conhecido como elemento necessário à transformação social.

1 Numa de conversa de bar em Sidney, o pai de um dos protagonistas – o médico Jack – conversa com outros dos protagonistas, Sawyer, sobre a bebida e a Austrália, em um flashback da passagem de Sawyer pela Autrália.
2 São três filmes: O Cubo, o Cubo Dois e o Cubo Zero, que cronologicamente se situa antes do “Cubo”, mas foi o último a ser produzido.
3 Muita gente considera obra do acaso o fato de que estamos, uns sete bilhões de habitantes humanos e outros tantos seres vivos, neste mesmo planeta, com tantos lugares no universo para se estar!
4 Assim como é um dos graus da percepção da realidade.
5 Ser são, aliás, não significa que aquilo que percebemos é aquilo que é – longe disso.
6 Aliás, em termos psíquicos isso é possível, ou não teríamos formulado a hipótese. Se pode ser escrito, é porque pode ser imaginado. Muitas coisas podem ocorrer no campo da psique, embora nunca se manifestem, sabem isso pelo menos os junguianos. Daí que a realidade psíquica é tão mais abrangente que a física, porque a última é manifesta, mas a primeira está no campo da criação das coisas.
7 Num dos episódios, já adulto, após anos de vida como órfão, é enganado por sua mãe e pai de modo a doar um dos rins para o pai; em seguida é posto de lado. No entanto, na ilha é o maior portador da fé. Acredita num aspecto transcendental da vida que o reabilitou.

Tecendo o Fio do Destino – O Curso

 

 

Tecendo o Fio do Destino

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Destino?

Agulha no palheiro

onde o homem se procura

O tempo inteiro”

Lindolfo Bell

 

Cada um de nós nasce com um destino, não como um livro previamente escrito em que cada ato nosso está previsto, mas como uma missão a nós confiada. Isto faz com que a vida tenha um sentido e, muitas vezes, sofremos com angústia ou depressão por não percebê-lo claramente. Os fatos de nossas vidas estão aí para que encontremos o Fio do Destino que, junto com o nosso livre arbítrio, tece os acontecimentos tanto no nosso mundo interior quanto na nossa vida nas comunidades em que vivemos.

Este curso tem o objetivo de buscar o fio do destino de cada um, desembaraçá-lo, tecê-lo de forma diferente, mais confortável, mais de acordo com o sentido que queremos dar para nossas vidas. Para isso trabalharemos com fatos de nossas próprias vidas. Este trabalho será feito com palavras e arte, como aquarela, modelagem em argila, tear, desenho, contos de fadas, vídeos, teatro, etc. Ninguém precisa ser artista para participar, é claro.

Muitas das questões que nos colocamos hoje são percebidas de modo diferente quando as situamos no contexto mais amplo da vida toda. A troca de experiências de vida num grupo é enriquecedora e suaviza os sentimentos ligados a essas experiências.

 

O curso será coordenado por Marcelo Guerra, Médico Homeopata, Terapeuta Biográfico em formação. Terá a duração de 10 encontros mensais e será realizado no Instituto Gaia, à Rua Almirante Alexandrino, 2495A, Santa Teresa, Rio de Janeiro. O primeiro encontro será em 24 de novembro de 2007, de 8:30h às 17h. O investimento para cada módulo será de R$80,00 (já incluído o material). As vagas são limitadas. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (22) 9254-4866 ou pelo e-mail marceloguerra@terapiabiografica.com.brEste endereço de e-mail está sendo protegido de spam, você precisa de Javascript habilitado para vê-lo

 

Cada um hospeda dentro de si uma águia. Sente-se portador de um projeto infinito. Quer romper os limites apertados de seu arranjo existencial. Há movimentos na política, na educação e no processo de mundialização que pretendem reduzir-nos a simples galinhas, confinadas aos limites do terreiro. Como vamos dar asas à águia, ganhar altura, integrar também a galinha e sermos heróis de nossa própria saga? (Leonardo Boff)

Mente Mais Leve com Tricô

Nos EUA, tricô ajuda os
adolescentes ansiosos. E no
Brasil, a meditação é estudada
contra hipertensão e depressão

Lena Castellón

Um ponto aqui, outro ali. Olhos grudados nos movimentos das mãos, mas ouvidos atentos ao que dizem em torno. O professor fala e os estudantes tricotam. Parece estranho, mas é assim que alguns alunos do Manhattan Center for Science and Mathematics, dos Estados Unidos, têm assistido aulas. A direção acredita que permitir a prática na sala não é prejudicial. Pelo contrário, ajudaria a aprimorar a concentração. Em declaração dada recentemente ao jornal inglês The Times, uma assistente do diretor não apenas garantiu isso como acrescentou que os jovens também trabalham com papel e caneta. O curioso é que essa não é a única instituição americana a liberar o hobby em suas dependências. A atividade, tão comum às nossas avós, virou mania nos EUA e no Reino Unido. A moda floresceu há cerca de dois anos, gerou clubes de tricô nas escolas e invadiu a internet, com sites e blogs sobre o tema.

A mania cresceu tão rapidamente que foi lançado um livro para quem deseja aderir ao artesanato manual. Teen Knitting Club – das experientes tricoteiras americanas Jennifer Wenger, Carol Abrams e Maureen Lasher – traz dicas para que garotas e garotos (sim, eles também tricotam) produzam suas peças. “Tenho cinco mil clientes. Deles, 15% são adolescentes. E o interesse cresce”, conta Jennifer, que ensina a tricotar. Nas entrevistas feitas pelas autoras para entender as razões que levaram a moçada a incorporar o hábito, os jovens disseram que o tricô diminui a ansiedade e o stress. De fato, artesanato e trabalhos artísticos funcionam como métodos relaxantes. Além disso, o tricô exige atenção para que tudo saia direito. Ansiosos exercitariam a paciência e treinariam a capacidade de se focar em um objeto. Estressados encontrariam uma válvula de escape para a tensão. A beleza das peças ajudaria o tricoteiro a descobrir que pode produzir algo bonito, melhorando a auto-estima.

Complemento – No Brasil, o tricô também pode ser uma alternativa contra esses distúrbios. A jornalista Paula Camila, 21 anos, de Juiz de Fora (MG), recebeu de amigos a sugestão de fazer um trabalho manual para lidar com a ansiedade. Ela escolheu o tricô. “Melhorei bastante. Levo meu kit quando estou longe de casa”, revela. Em maio, numa viagem com o noivo, o programador de web Gabriel Barbosa, 23 anos, carregou consigo agulhas e novelos. “O tricô é tão terapêutico que ensinei meu noivo a fazer. Ele adorou. Diz que o tempo passa rápido”, comenta.

Na verdade, trabalhos manuais e artísticos como a pintura têm funcionado cada vez mais como complementos aos tratamentos da ansiedade e da depressão. São estratégias não medicamentosas que acalmam a mente. Pelo mesmo motivo, a meditação ganha espaço. “Ela controla o tráfego de pensamentos. É um momento de conscientização do que a pessoa é. Se é alguém calmo e está com raiva, cria meios de lembrar seu estado natural”, afirma Luciana Ferraz, da organização Brahma Kumaris no Brasil (entidade que oferece cursos de meditação e qualidade de vida em 86 países).

Os efeitos da meditação no controle de patologias da mente são alvo de estudo em várias partes do mundo. No Brasil, um desses centros é a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A psicóloga Márcia Marchiori, por exemplo, desenvolve tese para analisar o impacto da meditação em idosos com pressão arterial elevada. Avaliará também os níveis de depressão e ansiedade em 80 voluntários que serão acompanhados por três meses. Metade deles meditará duas vezes por dia durante 20 minutos. O trabalho começa em setembro. “Queremos ver se a meditação terá efeitos significativos para essas pessoas”, afirma Márcia. Por enquanto, as evidências mostram que há benefícios palpáveis. “Na depressão, a meditação ajuda o indivíduo a identificar pensamentos e emoções que o levam a um estado indesejável”, explica Elisa Kozasa, pesquisadora da Unifesp.

É claro que meditar – assim como fazer tricô – não é panacéia. “Se o praticante faz um tratamento, orientamos que prossiga com ele”, conta Luciana, do Brahma Kumaris. Quando se propõe o uso de tais estratégias, é importante entender que esses métodos são complementares à terapia indicada pelo médico. E também é preciso saber que esses expedientes precisam ser praticados com freqüência para que promovam os benefícios esperados. É como exercício físico. Uma vez só não adianta.

Publicado em IstoÉ 27/07/2005

Viver em Comunidade

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Vivemos um momento em que a humanidade parece estar sendo testada em sua capacidade de lidar com o mal, representado por terrorismo, vandalismo, espancamentos gratuitos, ganância desenfreada de algumas empresas, e por aí vai. Este é o momento para que as pessoas se organizem em comunidades, não somente segundo o local geográfico em que estão, mas também (e principalmente) segundo ideais espirituais.

Segundo um autor russo chamado Sergei Prokofieff, “quando seres humanos se unem em liberdade em torno de uma base puramente espiritual, eles podem provocar não apenas um incremento, mas uma potenciação das forças do bem no mundo, o que não é possível da mesma forma no caso de uma pessoa isolada.” (in O Encontro com o Mal).

Neste sentido, muitas comunidades têm se formado na internet, com pessoas de diferentes pontos do mundo, mas com sintonia de ideais, nem sempre bons, é verdade. Participar, não se isolar, formar laços, isto é o que precisamos realizar para trazer o BEM para o centro da mesa.