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A Vida de Hahnemann – Introdução

A vida de Hahnemann comporta algumas peculiaridades que devem ser observadas antes de descrevê-la pormenorizadamente. Em primeiro lugar, Hahnemann viveu mais de 88 anos, o que era extremamente raro no século XVIII. Ele nasceu em 1755 e faleceu em 1843, tendo passado a maior parte deste tempo na Alemanha, que não era um país unificado, mas um amontoado de cidades-estado que freqüentemente enfrentavam-se em disputas de poder, e que depois foram todas dominadas por Napoleão e seu exército. Nos últimos anos de sua vida ele desfrutou da fama e expandiu o nome da Homeopatia em Paris, à época a cidade mais importante culturalmente no mundo, o farol para onde todas as mentes em busca de conhecimento e novidades voltavam-se avidamente.

Esta é a história de um homem que criou uma ciência de curar eficaz, rápida e segura, partindo unicamente de fatos, os quais ele observava atentamente para só depois deles extrair hipóteses e teorias. É a história de um homem obstinado, quase arrogante, que não se curvou ao senso comum nem para evitar a fome sua e de sua numerosa família. Um homem que defendeu arduamente o ideal de curar sem prejudicar, contra uma classe médica irada que não podia aceitar que este médico de origem humilde fosse ensinar-lhes uma nova arte e ciência de curar. Um homem que até seus últimos dias cuidou de aprimorar seu legado maior à Humanidade, a Homeopatia. Hoje a Homeopatia sobrevive e expande-se pelo mundo todo, mas nada disso teria ocorrido se seu visionário fundador tivesse sido mais complacente com seu pares da época. O ódio que os seus opositores lhe nutriram abertamente em vida, hoje foi amplamente sobrepujado pelo amor e gratidão de milhões de médicos homeopatas e pacientes beneficiados pela Homeopatia.

Eu sou grato em primeiro lugar por ser um médico homeopata e, em segundo lugar, por ter tido a oportunidade de fazer este estudo da vida deste grande mestre da humanidade, um homem muito à frente do seu tempo, talvez à frente até do nosso tempo, que captou a essência da matéria e a entregou a nós todos de forma metódica para que possamos perpetuar seu trabalho de trazer saúde verdadeira a nossos irmãos e irmãs que sofrem as mais diferentes mazelas do corpo e da alma. Em sua lápide ele mandou escrever: Non inutilis vixi (Não vivi em vão). Como se houvesse alguma dúvida… Muito obrigado, Christian Friedrich Samuel Hahnemann.

Entrevista com a Dra. Gudrun Burkhard

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(Entrevista publicada no jornal Folha de São Paulo, suplemento Equilíbrio, em 25/1/01)

Quem é ela

Nome: Gudrun Burkhard.
Idade: 71 anos.
Profissão: Médica antroposófica, clínica-geral e terapeuta biográfica.
O que faz: Dá cursos de biografia humana para terapeutas e médicos no Brasil e na Europa.
Filosofia de vida: A cura das doenças só acontece quando o homem consegue mudar seus hábitos e harmonizar os lados intelectual e afetivo.

A idéia de que desequilíbrios da vida cotidiana contribuem para que doenças apareçam e influem na cura já foi incorporada pelo estabelecimento médico. Mas, quando se formou em medicina pela USP em 1954, a médica paulista Gudrun Burkhard teve de ir até a Suiça para estuda e como cabeça e corpo caminham lado a lado na busca pelo bem-estar. De lá para cá, Burkhard virou um dos gurus da medicina antroposófica no Brasil, fundou duas clínicas, escreveu 12 livros e formou dezenas de discípulos. Aos 71 anos, continua reclamando que a medicina clássica não enxerga o homem como um todo e insiste que mudanças de hábito são tão importantes para a cura quanto remédios de última geração. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Folha – Como você entrou em contato com a Antroposofia?

Gudrum Burkahard – Quando me formei em medicina pela USP, em 1954, achei que precisava completar a formação clássica que havia recebido na faculdade. Nós tínhamos uma visão unilateral das doenças e da cura, sem considerar a individualidade de cada paciente, ignorando que o homem não era só um corpo físico, que ele também sentia, pensava e agia. Pouca gente na época dava importância à influência de fatores psicológicos no desenvolvimento da doença e na busca da cura. Fui, então, para a Suíça, onde havia uma clínica que já trabalhava com medicina antroposófica desde a década de 20. Fiz minha pós-graduação lé e, em seguida, voltei ao Brasil e comecei a atender em consultório particular.

Folha – Quem eram seus pacientes?

Burkhard – Eu atendia basicamente doentes crônicos, com câncer, esclerose múltipla, que não se sentiam satisfeitos com a resposta dada pela medicina clássica. Atuava também como clínica-geral, atendia do bebê ao avô. Em 69, fundei com meu marido a Clínica Tobias, só de medicina antroposófica. Lá, os pacientes crônicos ficavam semanas internados para revitalização e desintoxicação alimentar. Como o número de pacientes com estresse cresceu muito, abrimos outra clínica em 83, a Artemísia, para atender quem precisava de descanso e revitalização para resgatar a própria vida.

Folha – Como é o trabalho na Artemísia?

Burkhard – Os pacientes vão para lá para fazer o biográfico, que é um processo terapêutico no qual eles revêem seus passos de maneira que possam trilhar melhor o futuro. Também passam por reestruturação alimentar para desintoxicar o corpo e por outras terapias, como massagens e compressas.
Folha- A alimentação é tão importante assim?

Burkhard – As pessoas devem se alimentar de acordo com o estilo de vida que levam, e a dieta deve ser adequada ao trabalho. Não é tão importante quanto você come, mas o que come. Quem faz um trabalho mais intelectual não deve comer frituras nem carnes porque o organismo fica ocupado com a digestão e a cabeça não funciona tão bem. Essas pessoas devem comer grãos integrais e alimentos ricos em vitamina D e fósforo. Já quem trabalha mais com o físico deve adotar uma diética energética, abusar de massas e outros alimentos ricos em hidrato de carbono e com muita vitamina B.

Folha – Maus hábitos no dia-a-dia adoecem alguém?

Burkhard – Claro. Alimentação errada, falta de equilíbrio entre o lado afetivo e o profissional, uma vida cheia de conflitos, tudo isso influencia a saúde física do homem. Os desequilíbrios provocam distúrbios psicossomáticos, que podem resultar em estresse ou até câncer. A doença aparece para alertar que existe um desequilíbrio, e só o uso de remédios não vai resolver o problema. É preciso mudar os hábitos. Só que a maioria das pessoas ainda não se dá conta da importancia de os vários campos da vida estarem em harmonia. Tem gente que desenvolve muito o plano intelectual, mas deixa o sentimental de lado. Essa desarmonia cria espaço para que as doenças apareçam. Para ser saudável, é preciso descobrir se a pessoa obtém realização pessoal no trabalho, nas relações familiares, se ela tem tempo para fazer as coisas de que gosta ou se vive sempre em conflito.

Folha – Se a doença levar a hábitos mais saudáveis, então ela não é de todo ruim…

Burkhard – A doença é um alerta para mudar o ritmo do dia-a-dia. Fatores psicossomáticos afetam o corpo físico, a doença se manifesta, e a pessoa é forçada a dar uma parada obrigatória. O ideal seria que fizéssemos pequenas paradas espontâneas para ver como está a vida, mas ninguém faz isso. Quem leva uma vida cheia de desarmonia e não pára de vez em quando para corrigir o caminho que está trilhando termina sendo obrigado a parar quando a doença surge. Essa parada pode ser uma grande oportunidade para olhar para trás e ver o que está em desacordo com os desejos da pessoa.

Folha – E como se dá a cura?

Burkhard – O processo de cura começa com a busca do conhecimento interno, que é feito com o biográfico. Também damos aos pacientes a oportunidade de se expressarem pela pintura, modelagem, música. Cada um vai descobrindo aquilo que gosta, o que incomoda. O biográfico não é só uma forma de diagnóstico, é um processo altamente terapêutico. O autoconhecimento é fundamental para conseguir bem-estar e saúde. Você precisa conhecer as diversas paisagens por onde já passou para poder redirecionar o futuro adequadamente.