Estava plantando sementes de pimenta murupi que trouxe de Manaus, e pensando quanto tempo levaria para as mudas crescerem. Me dei conta de que as sementes podem nem vingar. Não há garantias! Como em quase tudo (ou tudo?) na vida. Apesar disso, todos os dias plantamos sementes, esperando colher os frutos. Cuidamos do vaso, afofamos bem a terra, lançamos as sementes com boa distância entre elas, expomos ao sol, protegemos do sol excessivo, regamos com regularidade. Nossa parte, nós fazemos, e ficamos no aguardo da colheita, que pode ou não vir a acontecer. O importante é que NOS DEDICAMOS para que possamos colher, ainda que não tenhamos controle sobre todas as circunstâncias do processo. E você, o que plantou hoje?
Categoria: jung
Sentado no chão do pátio, à sombra de uma pereira centenária, o sábio lança varetas e consulta os oráculos do I Ching. Dia após dia, durante horas e horas, sem se cansar. “O Livro das Mutações é um ser vivo e em suas respostas podemos notar a marca de uma personalidade distinta”, escreveu aquele intelectual alguns anos mais tarde, relatando suas experiências com o clássico.
A cena descrita acima não se passa na China antiga, mas em um pequeno castelo na cidadezinha de Bollingen, na Suíça, durante o verão de 1920. O sábio sentado no chão é o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung,umpioneiro no estudo do inconsciente humano no século 20. Jung, que de cético não tinha nada, acreditava que a mitologia e as religiões da Antiguidade podiam ajudar o homem a conhecer melhor sua própria alma. O psiquiatra sempre se interessou por filosofia oriental – mas foi nas férias de verão de 1920 que começou a lançar as varetas proféticas. Foi amor à primeira consulta. “Encontrei relações cheias de sentido entre o que diziam os textos dos hexagramas e meus próprios pensamentos – fato que eu não conseguia explicar a mim mesmo”, conta Jung no livro Memórias, Sonhos, Reflexões. O fascínio do I Ching levou Jung a formular a teoria da “sincronicidade”, segundo a qual, em determinadas ocasiões, paralelos emergem entre o mundo da mente e omundo real – paralelos que, segundo ele, a civilização ocidental chama de “mera coincidência”. Para Jung, a coincidência não deve ser desprezada: o acaso, muitas vezes, faz sentido. A indicação de um determinado hexagrama pelo lançamento de varetas ou moedas pode parecer algo aleatório, mas também pode iluminar elementos ocultos no inconsciente de quem faz a consulta. Mesmo quando o sentido das frases é ambíguo e rarefeito, o simples ato de refletir sobre elas pode levar o paciente ao autoconhecimento. Jung testou sua teoria no consultório. Certa vez, tratava um jovem com complexo de Édipoque pretendia casar com uma mulher que lhe lembrava profundamente a própria mãe. O psiquiatra sugeriu que o paciente consultasse o I Ching – e o texto do hexagrama resultante era o seguinte: “A jovem é poderosa; não se deve casar com uma jovem assim”. Pura coincidência? Talvez sim. Mas a terapia funcionou.