Nico Brodnitz
O aconselhamento biográfico é um trabalho muito parecido a certas psicoterapias mais modernas; ele também contém uma série de elementos psicoterápicos, mas não é concebido para ser mais uma técnica psicoterápica.
Há várias possibilidades de se fazer o trabalho biográfico:
* em grupo, tipo workshop com duração de 4 a 7 dias cada encontro;
* com ajuda de um profissional, individualemente ou como casal
o cronologicamente
o partindo de um conflito agudo
* individualmente, por si mesmo, sem ajuda externa.
Nesse sentido o processo pode ser curto (p.ex. para se resolver um problema concreto que está atormentando a vida) ou demorado, tentando conseguir-se um panorama de toda a biografia.
O cerne do trabalho biográfico, porém, sempre deveria ser o decifrar do fio vermelho que se urde através da biografia. A descoberta gradativa desse fio elucidará os mais diversos momentos, geralmente bastante enigmáticos, muitas vezes dolorosos, da vida. Ou seja: descobrimos o por quê da nossa vida, das suas crises e mistérios.
Se olharmos a infância e adolescência, facilmente observaremos certos ritmos biológicos e psicológicos que coincidem em certas idades: A idade da birra, a mudança de dentição, a puberdade, etc. Acontece que os ritmos não acabam aos vinte anos, mas estendem-se até o final da vida. Exemplos mais conhecidos são a crise da meia-idade e a menopausa. Estes ritmos e fases tem uma ligação íntima entre si, pois muitos caracterizam-se por serem espelhos e metamorfoses de fases e ritmos anteriores. As fases mais marcantes são constituídas pelos setênios (períodos de sete anos), os nódulos lunares e as fases de “birra” durante o crescimento.
A maioria das pessoas sofre de pelo menos uma crise na vida. Crises surgem quando aquilo que recebemos como corrente hereditária e biológica não se encontra em sintonia com aquilo que poderíamos chamar de corrente individual, com aquilo que nós como nós mesmos pretendemos e ansiamos, independentemente de herança e adestramento infantil. Simultaneamente vêm aquelas crises que se originam por fatos, aparentemente externos a nós: acidentes, crise conjugal, desemprego, doença, etc. Todas elas possuem um caráter de desgraça. Na orientação biográfica aceitamos o infortúnio como tal. Todavia, tentamos descobrir o seu sentido e com isto um motivo positivo pelo qual a crise se manifestou. Tentamos descobrir o que está enterrado nas profundezas da alma, o que quer ser transformado, etc.
No aconselhamento biográfico também chamamos a atenção para a necessidade de um equilíbrio entre as três forças anímicas: pensar, sentir e querer, assim como a importância de alguma vida espiritual-meditativa.
Na prática terapêutica, esta pode restringir-se a sessões de conversa, ou pode-se estabelecer uma combinação de conversa e arte (terapia artística, euritmia curativa, tecelagem, etc). Sempre é favorável misturar teoria e prática, ou seja, trabalhar nos três níveis anímicos mencionados.
O aconselhamento biográfico pode tranqüilamente ser enriquecido por elementos da psicoterapia, como p.ex da análise transacional, da psicossíntese, da gestalterapia, etc., contanto que estas visem o Eu da pessoa. Pois no aconselhamentos biográfico é de importância central que trabalhemos com o Eu do cliente e não mergulhemos no seu âmbito emocional.
Tratando-se de uma síntese e análise da biografia, os vários campos da vida do cliente merecem uma certa atenção como p.ex. o casamento, a vida familiar, a situação profissional, etc.