Todo dia você acorda com várias responsabilidades. Algumas com as quais você lida sempre e vai continuar lidando, como o seu trabalho; outras que você vai resolver neste dia e estará livre delas; outras que uma vez por mês você precisa lembrar, como as contas. Ser responsável significa, ao pé da letra, responder a uma demanda. A necessidade desta resposta pode gerar ansiedade muito frequentemente, e então a tendência é buscar o controle de todos os fatores envolvidos naquilo que precisamos responder, para evitar o fracasso.
Quando você está no controle, há uma sensação de segurança que permite que você desempenhe aquilo que esperam de você com uma certa facilidade, diria até que ‘com os pés nas costas’. A questão é: até que ponto o controle que você pensa ter sobre algo é real?
Um exemplo muito comum é encontrado na relação entre pais e filhos. Muitos pais acreditam que, por serem responsáveis pelo seu filho, deveriam controlar tudo o que ele/ela faz, ligando a cada 5 minutos para o seu celular, dando incertas para conferir se está onde disse que estaria. Monta-se uma estrutura de vigilância ao redor do filho. E então o pai ou a mãe sente-se seguro. Esqueceram de sua própria juventude. Há 3 décadas atrás, quando eu era adolescente, era comum os pais ditarem regras muito estritas sobre onde ir, com quem ir, a que horas chegar, e por aí vai. Uma enorme lista de regras a serem quebradas, no mínimo envergadas.
A medicina é uma profissão em que isso se revela de uma maneira muito clara. O médico é responsável pelo tratamento junto com o seu paciente, mas ele não tem controle sobre a evolução da doença. Todo tratamento envolve inúmeros fatores, como o estilo de vida do paciente, seu (do paciente) compromisso em tomar e fazer o que for prescrito, a virulência do microrganismo (no caso de uma doença infecciosa), sem contar com o clima, com os problemas que batem à sua porta e causam um desequilíbrio total. Muitos fatores que o médico não pode controlar. No entanto, ele precisa ser responsável. Como ser responsável por uma situação da qual eu não tenho o controle?
A resposta está no ‘interesse’, uma palavra que tem origem no grego antigo e significa estar entre. O médico responsável consegue colocar-se entre a doença e o doente, conhecendo os mecanismos, formas de tratar e possíveis complicações da doença, e sendo generoso com o seu paciente, ouvindo suas queixas, sabendo que ali está um ser humano e não um caso de uma doença. Apesar de não ter o controle sobre a vida do paciente nem sobre a doença que o trouxe à consulta, o médico pode e deve ser responsável pelo seu tratamento.
Trazendo o interesse para outras situações em que é preciso ter responsabilidade, como no exemplo de pais e filhos, fica muito claro que a necessidade de controle será tanto maior quanto menor for o real interesse pela vida do filho. Interessar-se pelas suas atividades, pelas suas amizades, pelas suas dificuldades, pelos seus gostos, pelo que lhe faz sofrer. Interesse não implica em ser invasivo, mas em apoiar quando sentir que é preciso e até mesmo repreender em algumas situações. A pessoa que tem interesse pelo outro cria um vínculo em que o controle torna-se obsoleto, e assim é possível ter responsabilidade tirando o peso da ansiedade das costas.
Deveras interessante…